Por: Tainã Milena - Na última sexta dia 14 de março, ocorreram nesta cidade duas situações que infelizmente envergonharam muitos cidadãos, inclusive esta que vos fala. É sabido que, muitos comentam que esses assuntos de teor discriminatório, estão demasiadamente “rodados”, entretanto, nessa sociedade hipócrita e injusta, constantemente deve se altercar acerca das situações tirânicas e parciais.

A primeira situação, foi a V Caminhada Reflexiva do Movimento Feminino de Jacobina, ocorrido nesta cidade, com o objetivo de proporcionar a todos os cidadãos, o conhecimento sobre o movimento e o apoio para com as outras instituições que se fizeram presentes, como APCD - Associação das Pessoas com Deficiência de Jacobina –Ba; APAE de Jacobina; O Grupo de Idosos e muitos outros que contribuíram para a constante luta ao “agredido e esquecido”. Entretanto, o dia 08 de março não é um dia de vitória, não é um dia para recebermos flores e bombons, café da manhã na cama, ou para que o “nosso” homem nos bajule, é um dia para lembrar todos os martírios que as mulheres e simpatizantes da causa passaram para que hoje pudéssemos pelo menos votar.

Durante a Caminhada, ocorreram gritos de guerra, como por exemplo: “A nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadoria.” Ou “A nossa luta é por direitos, mulher não é só bunda e peito.” Em outro momento, o “grupo de teatro da UFBA”, apresentou-se durante toda a caminhada, e fazendo demonstrações de várias passeatas, como a “Marcha das Vadias” (é um movimento que surgiu a partir de um protesto realizado no dia 3 de abril de 2011 em Toronto, no Canadá, em que ocorreu o movimento contra a crença de que as mulheres que são vítimas de estupro, teriam provocado a violência por seu comportamento. O nome surgiu depois que o policial Michael Sanguinetti fez uma observação infeliz para que "as mulheres evitassem se vestir como vadias (sluts, no inglês original), para não serem vítimas dessas agressões.

Historicamente, é a partir da Revolução Francesa em que a civilização ocidental descobre que as mulheres têm um lugar na cidade e a datar do movimento sufragista (movimento social, político e econômico, que possibilitou uma reforma mundial, com o objetivo de estender o sufrágio, o direito ao voto, a todas as mulheres). As muitas mulheres antes de mim, lutaram e resistiram diante de inúmeras situações, nas quais eram subjugadas pelo fato de serem mulheres, sempre defendendo a “igualdade entre homens e mulheres”.

Hoje, o Preâmbulo da Constituição Federal, exatamente no Art. 5º, diz: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; E Art. 9º e a Lei nº 7.783/89 asseguram o direito de greve a todo trabalhador, competindo-lhe a oportunidade de exercê-lo sobre os interesses que devam por meio dele defender. (para saber mais, procure em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm).

A segunda situação, foi o “desacato” e a falta de segurança demonstrada por um “senhor radialista” desta cidade, que creio eu, desafortunadamente envergonhou seus companheiros de trabalho, pelo simples fato de confundir um “dever e um direito” da categoria dos docentes nesta cidade em todo o país. “Ao desligar o microfone do professor Felisvaldo”, você, caro locutor, estava também privando-o não apenas de uma explicação sobre o que é uma greve, ou paralisação, mas estava privando-o do ato de liberdade de direito à resposta (Lei já citada). 

Em nome a todos os companheiros e companheiras, professores e professoras, que possuem segundo a Lei do Art. 9º, citada acima, possuem liberdade para paralisar suas atividades ou exercer uma greve. Paralisação esta, e possivelmente uma greve, que será de apoio total daqueles que estão envolvidos com a “verdadeira” educação no Brasil. Pois, eu, como estudante de escola pública, do ensino fundamental ao médio, e hoje como estudante de História da UNEB, Universidade Estadual da Bahia; apoio com toda força este manifesto, pelo simples fato de sofrer todos os dias, com uma educação precária, em que, “esse” profissional, “O Professor”, é um ser massacrado, aviltado e humilhado, por um governo hipócrita. 

Como estudante de escola pública, filha de professores, mulher, livre, eleitora, militante, pesquisadora, fotógrafa, escritora, e Professora em formação, tenho o “direito” e toda a autonomia de dizer que o senhor, caro radialista, está extremamente equivocado. O sentimento que me ocorreu foi de aviltamento a cada palavra proferida do senhor, tanto na parte que me toca por ser mulher, quanto na parte de ser professora em formação. Não é esporádico que tomo o lugar de cara mulher injuriada, que foi acusada de ser vadia.  Toda reivindicação igualitária das mulheres hoje não é em vão; Nós feministas (e muitos homens feministas) consequentemente chegaram a reconhecer, em grau crescente, a necessidade de transformar fundamentalmente o sistema maior, social e cultural. A conquista de direitos iguais, na perspectiva liberal, não garante a prática da igualdade plena nem às mulheres nem a muitos homens. 

Esta introdução a respeito dos acontecimentos, foi apenas para vossa senhoria, caro leitor, compreender, como ocorreu o movimento da Caminhada da Mulher, e uma entrevista frustrada, ocorrida no mesmo dia. Não venho aqui tratar de leis, ou obrigações civis, mas como cidadã dessa cidade venho por meio de meu direito legal à fala, comentar um ato de injuria perante essas “mulheres” e aqueles que estavam presentes nos apoiando, e aos professores desta cidade.

Por favor, caro radialista, “não confunda liberdade de expressão com liberdade de opressão”. Já dizia o maravilhoso Thomas Morus, em seu prestigiado livro “A Utopia”, em 1516, torna-se tão atual quanto qualquer texto acadêmico. Ele já dizia: “Abandonais os jovens, desde tenra idade, a uma educação ociosa e a um contágio progressivo com o vício; quando chegam à idade adulta, dais-lhes severos castigos, em nome do Senhor, pelos mesmos crimes que impunemente cometem desde a infância. Que fazeis deles senão ladrões, para em seguida enforcardes?”

Sim, caro radialista, que fazeis então o Estado, se não criar ladrões para depois puni-los, pelos simples fato de que essa mesma educação os tenha confinado à ignorância? Sim, é complicado ser “professor” e ser “mulher” no Brasil, e sabe o por quê? Pelo simples fato de que, pessoas como o senhor, desprovidos de um senso crítico e de informação, tende a desprezar essas classes tão causticadas, e com o apoio de pessoas de tamanha ignorância como um certo ouvinte, que disse que as meninas “seminuas” na Caminhada eram uma falta de respeito para a sociedade - é um absurdo; Porque o homem pode andar sem blusa por aí, urinar na rua e abusar psicologicamente de uma mulher, ou pior, assediá-las na rua (isso sim é civilizado), lembrando que, quem gera um homem é uma mulher, ele não nasce de uma chocadeira. Esse debate torna-se tão ignorante e arcaico que não é possível uma conversa digna sem que tenhamos o microfone desligado. 

Se deseja culpar alguém, culpe à falta de educação que os eleitores tendem ao escolher errado seus representantes para subir à Câmara de Vereança e à Prefeitura. Culpe o Estado por não se preocupar com “uma educação de qualidade” desde a mocidade à Universidade. Culpe os homens e mulheres que se submetem a ignorância que este governo os resignam, mas não culpe aos professores, por esta educação arruinada, não culpe a nós mulheres por sermos estupradas, assediadas e aviltadas constantemente. Culpe as palavras que saem da boca, sem noção a quem podem atingir. E por fim, culpe está aqui que vos escreve, por não sucumbir à ignorância que o Estado deseja e que sempre luta por educação e direitos.

Agradeço ao jornal por me ceder um espaço, as minhas amigas e amigos da UNEB que estão me apoiando sempre; As minhas amigas mais antigas que em momentos bons e ruins estão sempre comigo; À minha mãe e avó por me serem exemplos; a minhas professoras e professores que sempre me apoiam com minhas ideias malucas, especialmente a Professora Cláudia e meu orientador Washington Drummond por ter me dado a oportunidade de desenvolver uma pesquisa tão maravilhosa; a minha coordenadora Cáthia pela paciência; a todas as mulheres de Jacobina; A Deijanira que me apresentou o Movimento, Ao Movimento de Mulheres de Jacobina; E a todos os leitores, que como eu, alimentam o cérebro a cada dia com a palavra escrita.

Termino este artigo com uma frase da minha amada Simone de Beauvoir: “O homem é definido como ser humano e a mulher é definida como fêmea. Quando ela comporta-se como um ser humano ela é acusada de imitar o macho.” E é por isso que lutamos, não para parecermos com o outro, mas para sermos definidas por nós mesmas, mulheres, livres, seres pensantes que não cansam de falar e batalhar pelos nossos direitos.

Tainã Milena Aristóvolo Andrade
RG: 1402632924