O Rota 324 recebeu na manhã desta terça-feira, um e-mail de um turista paulista, onde chama a atenção para a forma utilizada pelo município para identificar pontos turísticos da cidade. Arquiteto Urbanista, Marco Aurélio descreve em detalhes o que sentiu ao ler cada placa, confira:
"Casario Abandonado
Segundo o IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional:
“Patrimônio Histórico pode ser definido como um bem material, natural ou imóvel que possui significado e importância artística, cultural, religiosa, documental ou estética para a sociedade. Estes patrimônios foram construídos ou produzidos pelas sociedades passadas, por isso representam uma importante fonte de pesquisa e preservação cultural.”
Ao passear pelas ruas e distritos de Jacobina não pude deixar de admirar a sinalização turística empregada. Coloca-se placa em tudo de cachoeira a caixinha de fósforo, num critério estranho e duvidoso. Apesar de me incomodar penso que haja alguma justificativa, mas o que entala na garganta são as placas intituladas “CASARIO”. No bom e velho pai dos burros fui consultar.
CASARIO: s.m. Sequência, reunião ou agrupamento de casas.
Talvez a administração municipal queira dizer casario colonial, a informação necessita de muita força de vontade, mesmo por um humilde bacharel em arquitetura, penso na população que leiga deve ser educada e instruída em educação patrimonial.
Porem anterior a isso as placas muitas vezes estão indicadas à propriedades em ruínas e que estão em acelerado processo de destruição. Talvez a placa deva vir com essa legenda: ‘Abandonado’; ‘A Ruir’; ‘A imagem é meramente decorativa’.
A provocação acima serve para que os emplacadores trabalhem melhor a proposta. Francamente, um turista (já que a placa possui esse interesse também) não sai de casa para ver o quanto o patrimônio histórico esta deteriorado, o “turista” que pode ser também um munícipe a observar os ditos CASARIOS, procuram por suas raízes, por sua memória, pelos espaços referenciais que lhe constitui Jacobinense, Sertanejo, Brasileiro. Pergunto ao remover a memória, deixando ruir o que se pode colocar no lugar, com igual peso e valor. Aliás, quem são os responsáveis regionais por essa barbárie, será que o jargão da crise (“A culpa é do presidente”) se aplica a tal caso? Será que o poder local, interessado em emplacar tudo que lhe venha à cabeça, sabe a sua responsabilidade de educar e zelar por tudo o que indica?!
Faltam-me palavras ao deparar com tamanha omissão e descaso. Será falta mão de obra especializada ou consultoria? Caso seja, me coloco a disposição do Secretario Municipal de Emplacamentos Non Sense para discutir tal despropósito, mas do que discursos precisamos de práticas e pesquisas que criem saberes e façam que exista uma real apropriação por parte da sociedade de sua história contada em tijolos de barro, assim como pela paisagem árida e montanhosa, que são a materialização da ocupação territorial do sertanejo, como meu avô o fizera, é o livro construtivo da memória dos causos contados no alpendre, é a solidez do texto lido na fumaça das casas de farinhas onde se forja o imaginário."
Marco Aurélio Ribeiro é Arquiteto Urbanista trabalha e reside em São Paulo onde pesquisa e estuda arquitetura vernacular.
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