Domingo, 17 de abril de 2016, um dia que entrará para a história do Brasil, quando um momento de extrema importância política, onde ‘estava em jogo’ o futuro do país, se transformou em uma das mais vexatórias sessões já vista nos últimos tempos numa Casa Legislativa. O brasileiro que teve ‘estômago’ para acompanhar, através de diversos canais de televisão, viu um espetáculo Dantesco do Congresso Nacional que decidiu através do maior número de votos pela continuidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

Nos votos a maioria dos parlamentares favoráveis ao afastamento da petista não fez nenhum comentário ou posicionamento sobre as pedaladas fiscais — manobras contábeis que embasam o pedido de impeachment — e utilizou como justificativa seus próprios familiares, Deus, cristianismo,  o fim da corrupção, dentre outros motivos que surpreenderam até jornais internacionais. Os discursos beiraram a insanidade.

O processo de afastamento da presidente apareceu na capa de diversas publicações, como Clarín, The Washington Post, The New York Times e The Wall Street Journal. Na Espanha o jornal ‘El País’, anunciou: “Um parlamento com momentos de circo decide o futuro de Rousseff”.

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e advogado Joaquim Barbosa utilizou o seu perfil no Twitter para desabafar sobre seu descontentamento com o teor dos votos dos deputados no processo de impeachment: "Anotem: teremos outras razões para sentir vergonha de nós mesmos em toda essa história", seguiu Barbosa.

A deputada Raquel Muniz (PSD/MG) foi protagonista de um dos votos mais entusiasmados a favor do golpe. O dedicou à sua família e ao marido, prefeito de Montes Claros, que segundo ela ‘era’ o melhor do Brasil. Na manhã seguinte a essa declaração, no entanto, seu esposo foi preso na operação “Máscara da Sanidade II – Sabotadores da Saúde”. O episódio se tornou uma clara demonstração da demagogia e hipocrisia existentes nos discursos.  O exemplo de honestidade, o marido de Raquel, tomou café na cadeia.


Um fato curioso é que um dos que não usaram o nome de Deus foi o deputado Padre João (PT/MG) que, apesar de não ser da bancada evangélica, é um religioso.

Papel do Congresso - Conforme a Constituição é de responsabilidade do Congresso Nacional, legislar sobre as matérias de competência da União, mediante elaboração de emendas constitucionais, de leis complementares e ordinárias e de outros atos normativos com força de lei. É atribuído também ao Congresso, responsabilidade sobre a situação econômica, de segurança e de saúde do país. Mas, como a maioria dos parlamentares ali confiados pelo voto do povo nunca guardaram como segredo, aquela Casa sempre se esquivou de sua responsabilidade sobre os problemas do Brasil.

O jogo de poder e de barganhas também não é novidade para ninguém. Muitos deputados utilizam dos seus mandatos como uma forma de se locupletar, de fazer da política uma carreira profissional e não um meio de se buscar ou de proporcionar benefícios para o coletivo. O comportamento de mais de três centenas e meia, dos pouco mais de cinco centenas que compõe a Câmara dos Deputados envergonhou até mesmo os que achavam que a população brasileira estava sendo bem representada no Legislativo Federal.

Algumas pérolas dos discursos:

“Cunha, você é um gangster, sua cadeira cheira a enxofre”, disse o deputado Glauber Braga (Psol/RJ);

“Feliz aniversário, Ana, minha neta”, Sérgio Moraes (PTB-RS); 

 “Pela paz de Jerusalém, eu voto sim”, Ronaldo Fonseca (PROS-DF); 

 “Nesse dia de glória para o povo brasileiro, tem um nome que entrará para a história nessa data, pela forma como conduziu os trabalhos da Casa: parabéns presidente Eduardo Cunha. Perderam em 1964, perderam agora em 2016. Pela família e pela inocência das crianças em salas de aula que o PT nunca teve. Contra o comunismo, pela nossa liberdade. Pela memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias do Sul, pelas Forças Armadas, por um Brasil acima de tudo, por Deus acima de tudo, meu voto é sim!”, Jair Bolsonaro (PSC-RJ) .

Por Gervásio Lima
Historiador e jornalista