Diante dos fatos ocorridos na última semana, decorrentes da visita do reitor do IFBA ao Campus Jacobina, nós, professores e professoras desta instituição, vimos a público prestar os devidos esclarecimentos.

Somos um corpo de professores/as, em sua maioria mestres e doutores, atualmente formado por mais de 40 educadores, entre substitutos e efetivos, oriundos das mais diversas regiões da Bahia e de outros estados, que desenvolvem atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão. Apesar de dificuldades que interferem diretamente na qualidade e no desenvolvimento do nosso fazer pedagógico, temos realizado, ao longo desses quase 5 anos, um trabalho reconhecidamente qualificado e que se reflete em projetos de pesquisa e extensão, na participação de estudantes e professores/as em eventos científicos nacionais e internacionais, na produção acadêmica e na inovação tecnológica. Por outro lado, e não menos importante, é significativo o número de estudantes egressos do Instituto aprovados no ENEM para universidades públicas de todo o país, bem como premiados em olimpíadas estudantis nacionalmente reconhecidas.

Entre os dias 02 e 05 de maio de 2016, o Campus recebeu a visita do reitor Renato da Anunciação Filho acompanhado de outros gestores do IFBA (diretores e pró-reitores) para cumprir uma agenda administrativa do Colégio Dirigente. Desde que assumiu o mandato em agosto de 2014, o referido reitor tem demonstrado uma postura autoritária que se revela em práticas pouco afeitas ao diálogo com a comunidade que o elegeu. Nesse sentido, o ano de 2015 foi representativo por termos vivenciado uma greve que durou aproximadamente três meses, motivada, em grande parte, pela sua notória intransigência somada à sua visão estreita da natureza do trabalho educacional e, ainda, ao flagrante desrespeito aos órgãos maiores da instituição, como o próprio Colégio Dirigente e o Conselho Superior (CONSUP).

Pais, estudantes e servidores foram, respectivamente, convidados pelo gabinete da reitoria para que comparecessem a reuniões com o reitor ao longo da semana que, inclusive, foram desmarcadas e remarcadas criando uma certa confusão quanto às datas de realização. Esse foi o ponto de partida para os eventos que se seguiram.


Já no dia 03 de maio, houve uma reunião com os pais e responsáveis pelos estudantes. Na manhã seguinte, quarta-feira, dia 04 de maio, os ataques foram dirigidos aos estudantes. Estes, organizados de maneira independente pelo grêmio estudantil, realizaram um ato em protesto contra a atual gestão destacando em cartazes e faixas o caráter autoritário e inflexível da mesma. Vestidos de preto, em sinal de luto, os estudantes agiram de forma pacífica e respeitosa deixando o auditório do Campus sob insultos e acusações do reitor, por entenderem não haver nenhuma possibilidade de diálogo com esse gestor, dada a sua reconhecida inflexibilidade. O reitor Renato da Anunciação Filho permaneceu no auditório, na presença de gestores de outros campi e dos diretores do Campus Jacobina, onde continuou a acusar os estudantes de serem apoiadores de “docentes aqui que assediam estudantes”. Afirmou também que os estudantes estariam agindo como “escravos” e que eram “manipulados” pelos professores/as do campus. Após outra manifestação dos estudantes no pátio, alguns alunos foram pressionados nos corredores, por gestores que acompanhavam o reitor, para que delatassem os organizadores do ato e admitissem a participação de professores na ação. Tudo isto está suficientemente documentado e é comprovado por inúmeras testemunhas.

Neste mesmo dia havia o convite para uma reunião com os servidores às 15 horas. Antes, porém, no início da tarde, o reitor e o diretor geral do campus, professor Epaminondas Macedo, concederam uma entrevista à rádio Jaraguar AM, de Jacobina, na qual fizeram acusações aos professores e estudantes do campus. O reitor, na ocasião, reafirmou serem os alunos alienados e “papagaios de pirata” que apenas reproduziam a opinião dos professores/as, que seriam, por sua vez, a “oposição derrotada” e os “doutrinadores” que organizaram o ato estudantil.

O reitor também afirmou que a instalação do ponto eletrônico tem como objetivo evitar que se lese o dinheiro público, insinuando aos ouvintes que aqueles que são contra a instalação do mesmo são a favor desta prática criminosa. Na ocasião, ainda houve a contribuição caluniosa dos radialistas que comandavam o programa “Jaraguar Urgente”, que, entre outras intervenções desrespeitosas, chegaram a se referir aos professores do IFBA Jacobina como “esses fanáticos, esses imbecis, que ficam se utilizando do seu direito de docência para ficar doutrinando esses jovenzinhos na sala de aula”, afirmaram ainda que os professores promovem “lavagem cerebral” e que covardemente” conduziriam seus alunos por “um caminho doentio”. Os mesmos radialistas chegaram ao ponto de dizer que os professores do IFBA, por não quererem “bater ponto” transformariam o IFBA em um “cabaré, brega, covil,coito”.

Diante dessas violências provenientes dos dois gestores, que motivaram as também violentas acusações dos radialistas, e, tendo em vista os excessos, fartamente documentados, já praticados pelo reitor na sua passagem por outros campi, decidimos, em conjunto, recusar o convite e não comparecer à reunião. Optamos por protocolar uma pauta com reivindicações já conhecidas pelo reitor e, cujo não cumprimento por parte da gestão, tem inviabilizado a melhoria da qualidade do nosso trabalho. A nossa decisão visou, ainda, resguardar a integridade física, profissional e pessoal dos professores/as de mais ataques.

Diante de todos os eventos aqui narrados e dos desdobramentos, indiscutivelmente negativos para a imagem do IFBA, instituição de ensino que tem um compromisso com a formação humana, nas suas mais variadas dimensões, vimos a público repudiar as atitudes do Reitor que, em seu conjunto, desrespeitaram a comunidade interna, expondo os professores/as e estudantes de forma caluniosa, depreciativa e injusta diante de toda a comunidade de Jacobina e região, reforçando a sua imagem de gestor público autoritário, intransigente e irresponsável. Por outro lado, repudiamos também a postura do diretor geral do campus Jacobina, Prof. Epaminondas Macedo, que foi conivente com as opiniões difamatórias do reitor e, ocultando fatos, as endossou com comentários reducionistas que demonstraram, além do seu ponto de vista extremamente tendencioso sobre a comunidade interna, um mascaramento da realidade local e suas dificuldades. Por fim, também repudiamos o tratamento dispensado aos professores/as do Instituto pelos radialistas do programa “Jaraguar Urgente” da Rádio Jaraguar AM, que, sem sequer ouvir ou conhecer a comunidade interna, emitiram opiniões mentirosas e desrespeitosas, como, aliás, tem sido uma prática comum de setores da imprensa local contra os professores/as e instituições públicas de ensino da cidade e da região há algum tempo.

Lamentamos que esses dois gestores do IFBA e parte da imprensa local tenham demonstrado esses pontos de vista sobre a comunidade acadêmica do campus. Ao considerarem o corpo estudantil como incapaz de formar opinião de maneira independente, ao acusarem os professores/as de serem maus profissionais e manipuladores e ao ocultarem informações sobre as dificuldades vividas pelo campus, fazem coro ao projeto de desqualificação da nossa profissão e dos movimentos sociais que se desenvolve hoje no país. Exigimos respeito e afirmamos a nossa disposição em lutar pela autonomia educacional na construção de um pensamento crítico capaz de embasar a democracia, promover o desenvolvimento local e combater o autoritarismo e os preconceitos, em todas as suas formas de manifestação.

 Professores/as do IFBA Campus Jacobina