O autor é diretor do Hospital Municipal Antônio Teixeira Sobrinho
É interessante notar como algumas pessoas sentem prazer e/ou buscam de forma deliberada denegrir a imagem de profissionais, instituições, grupos. O fato de uma enfermeira ter realizado um ato de transcrever um laudo médico, sem opor sua assinatura ou se responsabilizar pelo quanto descrito, por impossibilidade de impressão do documento, que é emitido e enviado via telemedicina, para agilizar o atendimento e a prestação de informações importantes para a sua regulação na Unidade de Referência, transformou em motivo de piada e chacota de forma irresponsável e desnecessária.
Devemos lembrar que como a medicina, a enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e a qualidade de vida da pessoa, família e coletividade. Em razão disso, mais do que justificável e em consonância com os deveres que lhe são inerentes, a profissional realizou o ato de apenas, repita-se, transcrever para análise do médico da Unidade, o laudo elaborado e emitido por outro médico, que possui conhecimento e especialização para realizar tal ato.
Todos nós deveríamos desejar ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Deveríamos viver para a felicidade do próximo, não para o seu infortúnio. Contudo, nos perdemos em algum ponto do caminho. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. Reproduzimos informações sem ao menos nos darmos o trabalho de ouvir a outra parte. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos. Nossa inteligência, endurecidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de agressão e tudo será perdido. Perdemos a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Este outro possui uma família como nós, que também sofre e sente todas as nossas angustias e infortúnios.
Ainda que fosse possível cogitar em erro na conduta da profissional, quem de nós nunca errou e qual não errará? Os médicos, enfermeiros, advogados, dentre outras profissões não são falíveis? Quantas condutas, inclusive médicas, são praticadas erroneamente diariamente e os(as) enfermeiros(as) não dão publicidade e tentam ajudar a corrigir? Sim, os enfermeiros também ajudam a classe médica, conquanto alguns ainda insistem em achar que não. Eles, como os médicos e demais profissionais da saúde, sempre prezam pelo melhor atendimento aos pacientes e o pleno restabelecimento da saúde de cada um deles.
O profissional de enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos humanos, em todas as suas dimensões e a conduta realizada se adequa perfeitamente a estes postulados. Ocorre que o Ego de alguns profissionais que se acham acima de tudo e de todos é que desune equipes que necessitam trabalhar unidas em prol de um bem comum. Não há serviço médico sem enfermagem e a reciproca é verdadeira. O egoísmo e a falta de fraternidade têm dividido a humanidade e nestes momentos políticos se afloram ainda mais. Denegrir a imagem de profissionais e de instituições ainda é uma forma utilizada por muitos para tentar conquistar benefícios de todas as ordens. Isso é preocupante. E mais, entristecedor. Como já dizia Ghandi "olho por olho, e o mundo acabará cego".
Nos falta um sentimento indispensável na relação com o outro, qual seja, empatia. Esta nada mais é de que a arte de se colocar no lugar do outro. Temos desenvolvido uma atitude de sempre realizarmos um julgamento considerando informações superficiais, sem comprovação e esquecemo-nos de nos colocarmos no lugar do outro. Quando conseguimos fazer isso no ambiente de trabalho temos muito a ganhar, pois expandimos nossa capacidade de compreensão dos problemas que nos rodeiam.
Ser empático não se restringe às pessoas que conhecemos, mas principalmente com os desconhecidos, mais ainda nas redes sociais.
Termino com a já conhecida historia de Sócrates sobre o teste do filtro triplo.
Na Grécia Antiga, Sócrates detinha uma alta reputação e era muito estimado pelo seu elevado conhecimento. Um dia, um conhecido do grande filósofo aproximou-se dele e disse:
– “Sócrates, sabe o que eu acabei de ouvir acerca daquele teu amigo?”
– “Espera um minuto”, respondeu Sócrates, “Antes que me digas alguma coisa, gostaria de te fazer um teste. Chama-se o “Teste do Filtro Triplo.”
– “Filtro Triplo?”
– “Sim,”, continuou Sócrates, “Antes que me fales do meu amigo talvez fosse uma boa ideia parar um momento e filtrar aquilo que vais dizer. Por isso é que eu lhe chamei o Filtro Triplo.” E continuou: “O primeiro filtro é a VERDADE”. Tens a certeza absoluta de que aquilo que me vais dizer é perfeitamente verdadeiro?
– “Não,”, disse o homem “o que acontece é que eu ouvi dizer que…”
– “Então”, diz Sócrates, “não sabes se é verdade. Passemos ao segundo filtro, que é BONDADE. O que me vais dizer sobre o meu amigo é BOM?”.
– “Não, muito pelo contrário…”
– “Então”, continuou Sócrates, “Queres dizer-me algo mau sobre ele e ainda por cima nem sabes se é ou não verdadeiro. Mas, bem, pode ser que ainda passes o terceiro filtro. O último filtro é UTILIDADE. O que me vais dizer sobre o meu amigo será útil para mim?”
– “Não, acho que não…”
– “Bem, se o que me dirás não é nem bom, nem útil e muito menos verdadeiro, para quê dizer-me?” Concluiu Sócrates.
Alisson Fontes
Advogado
Diretor do HMATS
3 Comentários
Muito bom seu texto..os profissionais deveriam ler e fazer seus filtros antes de denegrir a imagem dos seus colegas de profissão. Sou enfermeira e fico indignada com esse tipo de atitude...falta ética profissonal e principalmente amor ao próximo!
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
ResponderExcluirParabéns
Parabéns Alisson!!
ResponderExcluirQuem não esta nos pequenos municípios não sabem o que passamos para poder agilizar uma regulação/transferência de um paciente, deveriam nos apoiar, agilizar o processo e não criticar o que não se fundamenta, pois cada profissional sabe muito bem qual é o seu papel. Essa pessoa foi muito infeliz, espero que reflita sobre seu ato.
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