Meu amigo Antonio do Brito, também conhecido como Antonio do Mercado Velho, uma certa vez me apresentou uma composição musical de sua autoria, que fala sobre os satélites que se movimentavam nos céus quando ele ainda era criança e "roubava" a sua atenção. Me recordei do tempo em que eu também era criança e morava no meu inesquecível Campo do Meio, que mais tarde passou a se chamar Nuguaçu, distrito de Mirangaba.

Além dos satélites vistos à noite, gostava de ouvir as estórias criadas pelas mentes "descansadas" e sadias dos mais velhos que se sentavam nas calçadas, em noites de lua, para prosear e contar anedotas. Outras crianças preferiam se divertir brincando de rondão, chicotinho queimou, esconde-esconde... e por aí vai. Não havia maldade naquela época. Havia sim, muita ingenuidade.

Os tempos se passaram e hoje restam apenas a lembrança e a saudade. E que saudade! Saudade da minha infância sadia; dos meus colegas de escola; das missas na igrejinha; das procissões do padroeiro Santo Antonio, acompanhadas pela banda de pífanos do Maestro Firmino; das festas de São João e de Santa Luzia. E por falar em Santa Luzia, lembro-me com se fosse hoje, as velas acesas e as imagens da santa colocadas sobre as janelas das casas. E como não havia iluminação pública à época, o brilho produzido pelas luzes das velas transformavam meu lugarzinho num ambiente de elevado significado espiritual. Todos seus moradores se sentiam iluminados e cobertos por um imenso manto cintilante, tomados por um forte e inabalável sentimento de fé. Ah quanta saudade!

As lembranças são muitas e de muitas coisas saudáveis, como se banhar nas águas do Rio do França, ouvindo o cantar dos pássaros que também cortejavam a natureza, agradecidos por tudo que ela lhes oferecia. Infelizmente hoje o cenário é desolador. O rio sofre com ação do homem e luta para permanecer vivo; suas matas ciliares quase já não existem mais; e os peixes foram extintos há muitos anos. Pobre homem; lamentável ganância.

E como diz um trecho da música "Meus Tempos de Criança", do saudoso Ataulfo Alves, "Eu daria tudo que eu tivesse/ Pra voltar aos dias de criança/ Eu não sei pra que que a gente cresce/ Se não sai da gente essa lembrança."

Por Solon Cruz