Uma série de acontecimentos negativos ocorridos recentemente tem deixado o brasileiro de cuca quente e ‘baratinada’. Não bastassem as enxurradas de informações e contrainformações de malfeitos éticos e políticos, uma espécie de ‘pingue pongue’ entre acusados e acusadores dos mais diversos crimes, inclusive de muitos até então desconhecidos por grande parte da população, chegam a confundir e dificultar uma interpretação do que realmente está acontecendo no país.

Acompanhar um noticiário na TV brasileira está se tornando algo cada vez mais repulsivo. Momentos que deveriam ser relaxantes e prazerosos estão se transformando em períodos estressantes e angustiantes, ao ponto de provocar incertezas nos sentimentos de orgulho e de pertencimento. Boas histórias, boas práticas, boas atitudes, bons exemplos e tantas outras boas coisas estão em extinção ou não são mais prioridades em boa parte das programações dos telejornais. Roubos, assassinatos, corrupção, abuso de poder, aumento da cesta básica (do valor), alta do dólar, atentado terrorista, reforma da previdência, PEC do Ensino Médio ... as notícias negativas se sobrepõem às positivas. É melhor assistir novela, pelo menos as cenas de crimes, traições, apelações nos relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, são obras de ficção e ‘qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência’.

Não que estejam necessariamente em segundo plano, mas os assuntos policialescos ou entendidos como de maior apelo de audiência, estão perdendo espaço para o noticiário político, ou melhor, para o pitoresco momento pela qual passa a política brasileira. Na TV aberta, única opção da maioria dos telespectadores de um país que a cada dia se parece mais com uma ‘República das Bananas’, a tentativa de manipular as opiniões alheias chega ao cúmulo do ridículo. Alguns tiros estão saindo pela culatra e algumas máscaras estão literalmente caindo, atingindo poderosos meios de comunicação e colocando, fato preocupante, em risco a integridade física e moral de colaboradores. Ao contrário do que se imagina ou imaginavam, a população está atenta a tudo que acontece em sua volta; um aprendizado adquirido na base de uma série de adversidades o que tem tornado-a atemporal.

Para as Ciências Humanas, resiliência é a capacidade de uma pessoa em possuir uma conduta sã num ambiente insano, ou seja, capacidade do indivíduo sobrepor-se e construir-se positivamente frente às adversidades. Pessoas resilientes conseguem superar um trauma sem sofrer consequências negativas. Conforme a psicóloga paulista, Marisa Martins, a peculiaridade do resiliente está no fato de poder escolher como quer perceber, responder às situações adversas e se tornar permeável ao processo de mudanças. Ou seja, ‘dar a volta por cima’.

Talvez seja por conta desta resiliência adquirida que o povo brasileiro tem demonstrado sensatez e, dentro das proporções, assistindo os acontecimentos e aguardando seus desdobramentos sem manifestações generalizadas.

... Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto, e daí?"
Eu tenho uma porção
De coisas grandes pra conquistar
E eu não posso ficar aí parado...
(...)
Eu é que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar ...”

Por Gervásio Lima
Jornalista e historiador