Chega 2017 e não tenho muita coisa para comemorar, pois a cada ano novo eu fico mais velho, e por ironia, justamente no ano velho eu estava mais novo. Bem, mas vamos ao que interessa. Neste período as famílias se reúnem para festejar o Natal e, uma semana depois, a chegada de um novo ano. É tempo de muita fartura na mesa e muita farra para alguns. Mas nem todos têm à sua mesa uma ceia recheada, ou, se quer, um pedaço de pão para saciar a sua fome.

No sábado, 24, ouvi o relato emocionado de um amigo, artista desta cidade, e muito conhecido no cenário musical, em que ele me revelou ser o Natal uma data triste. Incompreensível? Não! Disse que quando criança, cumprindo uma tradição à época, colocou seus sapatinhos na janela à espera de um presente do Papai Noel. No dia seguinte, ao acordar, se deparou apenas com uma moedinha de pouco valor, no lugar do tão sonhado presente, enquanto seus coleguinhas ganharam e exibiam presentes bem mais bonitos e "significativos". Mas aquilo era tudo que um pobre catador de licuri podia fazer para satisfazer o desejo do seu filho que o havia questionado porque Papai Noel não lhe dera um presente melhor, como o fez com os outros vizinhos. A indagação lhe causara uma forte dor, seguido de um choro sufocador.

Talvez pela sua "rudez", o catador de licuri não entendia que a criança passa por uma fase em que acha que é o centro das atenções, e todos vivem ao seu redor somente para satisfazer seus desejos. "Lembro-me que as lágrimas não paravam de escorrer sobre o rosto envelhecido e sofrido de meu saudoso pai ao ouvir minha ingênua indagação, e ainda hoje carrego comigo esta triste lembrança, portanto, não tenho o que festejar no Natal", disse meu amigo artista, com os olhos cheios de lágrimas. Uma cena que se repete muitas décadas depois.

Assim com meu amigo eu também não tenho o que comemorar. De que vale uma mesa farta, se existe ao meu redor muita gente passando fome; do que vale tanta bebida, se existem muitos sem ter o que beber; do que vale desejar (e talvez só desejar) um ano novo de prosperidade, saúde e paz, se nós não compartilhamos, de fato, nossas bonanças, não socorremos o doente e não aprendemos a perdoar. Eis a questão!

Por Solon Cruz