O professor de telecomunicação da New York University, Tony Schwartz, no seu livro Mídia: O Segundo Deus (1985), compara a mídia como um ‘deus’. Em um dos trechos de sua obra literária ele diz: ”Deus, onisciente, onipresente, todo-poderoso. Consegue estar em todos os lugares ao mesmo tempo. E os meios de comunicação, como o rádio e a TV? Se pararmos para pensar, podemos então chamar esta mídia de Segundo Deus. Ela está em todos os lares, ao mesmo tempo”.
Schwartz, que também é um especialista em comerciais e mídia política, ressalta que a mídia tem o poder de influenciar as pessoas. Segundo ele, a sociedade é incessavelmente bombardeada por diversas informações, e para que uma determinada informação consiga despertar a sua atenção, é preciso que ela se diferencie do resto, causando uma espécie de estranhamento em quem a recebe. Só assim uma pessoa poderá, primeiramente, percebê-la, compreendê-la e, por fim, julgá-la através da formação de uma opinião própria a seu respeito.
Para a professora doutora em Letras, Rosane Monnerat, autora do livro “A publicidade pelo avesso: propaganda e publicidade, ideologias e mitos e a expressão da ideia: o processo de criação da palavra publicitária (2003)”, a publicidade tem o poder de humanizar o produto e proporcionar a ele uma identidade e uma personalidade única, de acordo com os sonhos, fantasias e desejos do consumidor. Conforme Monnerat, na publicidade o apelo à emoção é na verdade um apelo a valores, àquilo que promove no sujeito sentimentos referentes à aproximação, familiarização, pessoalidade e confiança, e é através desses recursos que o discurso publicitário desenvolve seu caráter argumentativo persuasivo e manipulador.
Nos últimos dias algumas campanhas publicitárias têm chamado a atenção pela apelação e pelo ato falho e gravíssimo do preconceito e discriminação. Uma delas, talvez a que mais recebeu críticas, parte do próprio Governo Federal, que se entende, deveria ser referência em respeito e exemplo de comportamento ao interagi com a população através dos meios de comunicação.
A execução da campanha, intitulada “Operação Rodovida”, iniciada no final de 2016, passa uma mensagem considerada errada e ao contrário do que possa querer atingir, é um verdadeiro desserviço. Em uma das peças, que mostra protetores de animais, em letras garrafais diz: “Quem resgata animais na rua pode matar”. Enquanto outro material também agressivo ressalta: “Não use o celular ao volante. Gente boa também mata”. É provável que da forma que está sendo apresentada a peça publicitária governamental traga mais atos negativos do que positivos.
Já uma rede de farmácia com presença em todo o país, em sua campanha institucional para comemorar aniversário de fundação, tendo a atriz Eva Wilma como ‘garota propaganda’, coloca em um dos trechos do material que está sendo exibido na televisão um pé de uma pessoa descalça pisando em um ‘torrão’ (chão rachado pela seca) e concomitantemente a mensagem: “sertão a gente desbrava”. Uma infelicidade sem tamanho de uma empresa que conta com dezenas de lojas instaladas no sertão nordestino, vendendo seus produtos para este povo que pisa no seco quando é castigado pela falta de chuva, mas que possui, além do torrão, belezas, lugares e vidas diversas que poderiam ilustrar melhor um comercial produzido por quem não sabe ou fingi não conhecer que "o sertanejo é, antes de tudo, um forte".
“Hoje é o dia da mentira
Eu brinquei você caiu
Na verdade, hoje é primeiro de abril”
(...) – Primeiro de Abril – Léo Magalhães
Por Gervásio Lima
Jornalista e historiador
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