Membros do gabinete são céticos quanto à eficácia da obra
Donald Trump determinou nesta quarta-feira, 25, o início “imediato” da construção de um muro na fronteira dos EUA com o México, dando o primeiro passo para a realização de sua mais simbólica promessa de campanha. O presidente também endureceu o combate a imigrantes ilegais e prometeu suspender o repasse de recursos federais a cidades que têm políticas de tolerância a comunidades de estrangeiros sem documentos.
Apesar da urgência expressada por Trump, integrantes de seu gabinete expressam ceticismo sobre a viabilidade e a eficácia do muro. Se for construída, a obra terá extensão de 2.200 km, mais que a distância que separa São Paulo e Salvador. Alguns de seus trechos passarão por desertos, reservas ambientais e áreas indígenas. Outros ficarão em propriedades privadas, o que exigirá negociação com os proprietários e pagamento de indenizações.
Entre os principais críticos do muro está Rick Perry, secretário de Energia de Trump que durante 15 anos foi governador do Texas, um dos quatro Estados que fazem fronteira com o México. Há anos, Perry sustenta que a medida é ineficaz para combater a imigração ilegal.
“Se você construir um muro de 9 metros de altura de El Paso a Brownsville, o negócio de venda de escadas de 10 metros ficará muito bom”, afirmou em 2011. Em julho, seis meses antes de aceitar o convite para integrar o gabinete de Trump, Perry disse que o muro era inviável e jamais sairia do papel.
O general John Kelly, que assumiu ontem o Departamento de Segurança Interna, disse em sua sabatina no Congresso que o muro não será suficiente para impedir a imigração ilegal e o tráfico de drogas. “Se você construir o muro, ainda precisará dar apoio com patrulhas integradas por pessoas, sensores e dispositivos de observação.”
Trump estimou o custo da obra em US$ 10 bilhões, mas estudo da empresa de consultoria Bernstein avaliou que a cifra deve variar de US$ 15 bilhões a US$ 25 bilhões. Apesar de prometer no lançamento de sua campanha que a obra seria paga pelo México, o presidente determinou o uso de recursos federais para o início da construção. Financiamento adicional terá de ser aprovado pelo Congresso.
Visita. A construção do muro e a questão da imigração serão discutidas na terça-feira entre Trump e Enrique Peña Nieto, durante visita do presidente mexicano a Washington.
Em entrevista à rede ABC, Trump repetiu que o México pagará “100%” do muro, por meio de reembolso do que for gasto pelos EUA. No ano passado, ele disse que uma das possibilidades para o ressarcimento seria a retenção de parte das remessas que milhões de imigrantes mexicanos nos EUA enviam às suas famílias.
“As remessas são extremamente importantes para a economia mexicana e a imposição de um tributo sobre elas afetaria a população mais pobre”, disse ao Estado José Fernández Santillán, professor do Instituto de Tecnologia de Monterrey.
“A maioria dos imigrantes trabalha na agricultura, na construção, em restaurantes e hotéis, e recebe salários muito baixos”, observou Santillán. Em 2015, eles enviaram US$ 25 bilhões ao México, valor que superou o obtido pela exportação de petróleo.
As chamadas “cidades santuários”, que têm políticas de tolerância a imigrantes, já se preparam para recorrer ao Judiciário para contestar a promessa de Trump de cortar repasses, que consideram inconstitucional. Entre elas, estão Nova York, Los Angeles, Chicago e San Francisco.
Essas cidades impõe limites à cooperação entre a polícia e agentes de imigração, para evitar a detenção de imigrantes apenas pelo fato de estarem ilegalmente no país ou pela prática de pequenas infrações. De acordo com autoridades locais, a mudança nessa política vai afetar a colaboração da comunidade de indocumentados com a polícia e desestimular a comunicação de crimes, entre os quais casos de violência doméstica.
Cerca de 11 milhões de pessoas vivem sem documentos nos EUA, muitas das quais há mais de uma década. Imigrantes ilegais representam 5% da força de trabalho do país. No caso da agricultura, o percentual é de 26%, segundo dados do Pew Research. Na construção, 14%.
Estadão Conteúdo
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