País decretou estado de catástrofe nacional pela seca no fim de fevereiro. Fome, sede e doenças causadas por águas contaminadas.
Uma forte seca, aliada a ameaças de um grupo jihadista e instabilidade política, colocam em risco as vidas de milhões de pessoas na Somália. Segundo a ONU, ao menos 6,2 milhões de somalis precisam de ajuda urgente, o que corresponde a mais da metade da população.
Principais fatores para a fome na Somália:
-Seca obriga população a consumir água contaminada.
-Terroristas do Al Shabab impedem chegada de ajuda humanitária.
-Instabilidade política com sistema indireto de eleição.
No final de fevereiro, o país decretou estado de catástrofe nacional pela seca, que atinge diretamente 3 milhões de pessoas. A escassez aumentou o preço da água e as comunidades se viram obrigadas a recorrer a fontes perigosas, muitas delas contaminadas, que aumentaram o risco de contrair doenças como cólera e diarreia.
O governo avalia que são necessários US$ 825 milhões para atenuar as consequências da seca. No final da última semana, 110 pessoas morreram de fome e diarreia resultantes de doenças provocadas pela falta de água, segundo o primeiro-ministro, Hassan Ali Khaire.
A estimativa é de que 185 mil crianças estão à beira da desnutrição grave, e de que nos próximos meses esse número possa atingir 270 mil, de acordo com cálculos da Unicef.
Segundo a ONU, cerca de três milhões de somalis estarão em situação de emergência alimentar em junho de 2017 e 950 mil crianças menores de cinco anos sofrerão desnutrição aguda neste ano, das quais 185 mil morrerão se não receberem tratamento médico imediato.
Para agravar ainda mais a situação, combatentes do grupo jihadista Al Shabab, ligado à Al-Qaeda, controlam amplas zonas do sul e do centro do país e impedem o acesso de grupos de ajuda humanitária.
Nos últimos meses, os membros do Al Shabab optaram por uma estratégia de confronto direto e lançaram vários ataques contra bases militares da missão da União Africana na Somália (AMISOM) matando centenas de soldados e ajudando ainda mais a adiar o processo eleitoral presidencial somali.
Na terça (7), o secretário geral António Guterres esteve no país e exigiu medidas imediatas para evitar a repetição de uma tragédia como a de 2011, quando mais de 250 mil pessoas morreram de fome no país.
Novo presidente
A Somália é também um país de grande instabilidade política, que vive em estado de guerra e caos desde 1991, quando o ditador Mohammed Siad Barre foi derrubado, deixando o país sem um governo efetivo e nas mãos de milícias radicais islâmicas, "senhores da guerra" e grupos armados.
O país não tem eleições convencionais, já que o Parlamento, em vez de por sufrágio universal, foi eleito por 14.025 delegados de diferentes clãs e em desiguais cotas de poder na Câmara. Apesar disso, após cinco adiamentos em um período de seis meses, os somalis tiveram finalmente este ano o processo mais democrático já realizado no país nos últimos 47 anos, já que a última eleição realmente democrática aconteceu em 1969.
Sob forte esquema de segurança, no dia 8 de fevereiro o ex-primeiro-ministro Mohamed Abdullahi Farmajo foi eleito presidente da Somália pelo parlamento. Reunidos no aeroporto internacional de Mogadíscio, o local mais protegido da capital, os parlamentares somalis fizeram as votações em meio a fortes medidas de segurança para evitar novos ataques do Al Shabab.
Veto dos EUA
A Somália faz parte da lista de países incluídos na ordem migratória assinada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e seus cidadãos estão temporariamente proibidos de entrar naquele país. O presidente Mohamed Abdullahi Farmajo, que tem dupla nacionalidade, somali e americana, falou sobre o assunto na terça (7), durante visita do secretário geral da ONU, António Guterres, à Somália.
“Definitivamente preferimos que esse banimento seja cancelado e, claro, temos que nos comunicar com o governo dos EUA, porque como todos sabem temos uma grande comunidade somali nos Estados Unidos, que, tenho certeza, contribui para a economia dos EUA... temos que abordar a raiz do problema, que é a questão da segurança e como derrotar o Al Shabab aqui”, disse.
Por G1
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