Presidente tomou atitude em meio aos desdobramentos da operação Carne Fraca, que investigou esquema de liberação de licenças para frigoríficos sem fiscalização.


O presidente Michel Temer foi a uma churrascaria na noite deste domingo (19) em Brasília, no Setor de Clubes Sul, com ministros e embaixadores de países que importam a carne brasileira.

Depois do jantar, Temer foi questionado sobre a qualidade da carne e disse que estava muito “boa” e que todos “se deliciaram”.

O presidente disse ainda que ouviu de embaixadores que os representantes dos países presentes ao jantar iriam “advogar junto a seus países no sentido de divulgar a tranquilidade em relação ao consumo da carne brasileira”.

Só carnes nacionais, diz gerente
Inicialmente, Rodrigo Carvalho, gerente do restaurante, afirmou ao G1 que foram servidas carnes importadas e brasileiras. E que o restaurante ofereceu picanhas importadas da Austrália, mas também peças produzidas no Brasil. Havia ainda outros cortes de carnes produzidos no país.

Depois, o gerente mudou sua versão. Disse que o restaurante trabalha com carnes importadas, mas que 80% das carnes servidas diariamente são nacionais. Ele ressaltou, no entanto, que no jantar de Temer com os embaixadores, só foram servidos cortes nacionais. Segundo ele, a picanha australiana com a qual o restaurante trabalha estava em falta e por isso não foi servida.


A Secretaria de Comunicação da Presidência da República divulgou a seguinte nota: "Todas as carnes servidas, neste domingo, ao presidente Michel Temer e aos embaixadores convidados para jantar na churrascaria Steak Bull foram de origem brasileira. A gerência do estabelecimento inclusive apresentou os produtos servidos a órgãos sérios da imprensa que questionaram a origem do produto".

Neste domingo, Temer teve uma série de reuniões com ministros, associações e diplomatas com o objetivo de discutir os efeitos da operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal na sexta (17) e que investigou um esquema de liberação de licenças para frigoríficos sem fiscalização.

No encontro com os embaixadores de países que importam a carne brasileira, Temer fez o convite: "Quero convidar a todos, quem puder aceitar o convite, que nós do governo vamos todos a uma churrascaria para comer a carne brasileira, de modo que os senhores embaixadores que puderem, quiserem e nos derem a honra da companhia, queremos convidá-los."


A lista de convidados não foi divulgada pela assessoria da Presidência. Segundo o cerimonial, participaram do jantar 19 embaixadores e oito encarregados de negócio, portanto, representantes de 27 países, além dos ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Blairo Maggi (Agricultura) reserva foi feita para 80 pessoas e o jantar na churrascaria custa R$ 119 por pessoa. Segundo o Planalto, a Presidência pagou as refeições de Temer e dos 27 diplomatas, mas não as de servidores e de assessores.

Na reunião com os embaixadores, o presidente fez um pronunciamento no qual informou que haverá uma "força-tarefa" para auditar os frigoríficos alvos da operação Carne Fraca.

Fiscalização 'robusta', mas não 'infalível'
Mais cedo, neste domingo, o ministro da Agricultura concedeu uma entrevista à imprensa no Palácio do Planalto na qual disse que o sistema de fiscalização da pasta é "forte" e "robusto", mas não "infalível".

"Informo que o sistema do Brasil é forte, é robusto, porém, não é infalível quando trabalhamos com pessoas", disse.

Segundo o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Luiz Eduardo Pacifici Rangel, nas avaliações feitas pelo governo, foi constatado que "não existe risco sanitário" no país.

Repercussão internacional
Neste domingo, pouco antes de se reunir com Temer no Planalto, o embaixador da União Europeia no Brasil, João Gomes Cravinho, manifestou preocupação com a crise decorrente das revelações da Operação Carne Fraca. "Neste momento, a situação preocupa a todos nós, claro", afirmou.

Na sexta, o governo dos Estados Unidos informou que está "monitorando" a situação no Brasil.

"Neste momento, o Serviço de Segurança e Inspeção de Alimentos (FSIS, na sigla em inglês) do Departamento de Agricultura (USDA) está trabalhando com funcionários do USDA no Brasil para saber mais sobre esse assunto. Também estamos em contato com o Ministério da Agricultura brasileiro e continuaremos monitorando a situação", dizia o órgão na nota.

De acordo com o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Marcos Galvão, nenhum país comunicou até agora ao país decisão de aplicar embargo a produtos brasileiros.

Por Gustavo Garcia, G1, Brasília