Presidente discursou na noite desta terça em evento da CNA e falou sobre desdobramentos da Operação Carne Fraca.


O presidente Michel Temer afirmou nesta terça-feira (28) que o país está se "recuperando" após a crise da carne parecer um "desastre insuperável".

A declaração de Temer foi dada durante evento organizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) sobre logística e infraestrutura, em Brasília. O presidente comentou os desdobramentos da Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal no último dia 17.

"Quando surgiu esse problema da carne, que nos primeiros dois dias parecia um desastre insuperável, inafastável, [que] não haveria como superá-lo, nós nos reunimos, logo no domingo, começamos a trabalhar e, em menos de uma semana, estamos recuperando praticamente tudo aquilo que foi, digamos, acusado, mal falado durante um ou dois dias", afirmou.

A Operação Carne Fraca investigou o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura em um esquema de liberação de licenças para frigoríficos sem a devida fiscalização, em troca de propina.

Diante do que foi divulgado pela Polícia Federal sobre as investigações, alguns países, entre os quais China e Hong Kong, os principais importadores da carne brasileira, além da União Europeia, anunciaram embargo ao produto (China e Hong Kong já retomaram as importações).


Mesmo assim, segundo o Ministério da Indústria e Comércio Exterior, as exportações de carne caíram 19% se comparadas as médias diárias das três semanas anteriores à operação e a média da semana seguinte à Carne Fraca.

Na semana passada, em meio a anúncios de países sobre embargos à carne brasileira, Temer afirmou, em entrevista à GloboNews, que o "espetáculo" da Carne Fraca causou prejuízos ao país. Em discurso, ao participar de um evento em Brasília, o presidente também disse que o "grande alarde" da PF resultou em "embaraço" econômico para o Brasil.

União Europeia

Após o evento da CNA, o presidente concedeu entrevista à imprensa, na qual avaliou que a crise da carne está "sendo superado". Ele acrescentou, ainda, que o Ministério da Agricultura está em contato com a União Europeia para que os países do bloco retirem o embargo sobre a carne brasileira.

"Ainda remanesce a questão da União Europeia. O ministro Blairo Maggi acabou de me dizer que terá novas conversações durante esta semana e na semana que vem. Técnicos virão para cá, para fazer um exame de inspeção", afirmou o presidente.

A Comissão Europeia informou, em e-mail enviado ao G1, que a carne brasileira produzida pelos frigoríficos citados na Operação Carne Fraca será rejeitada e terá de retornar.

A União Europeia anunciou nesta semana a suspensão das importações de carne do Brasil dos frigoríficos investigados na Operação Carne Fraca, que investiga irregularidades em 21 empresas.

A Comissão Europeia informou também que enviará representantes para participar de reuniões e visitar unidades produtivas e avaliar se medidas restritivas serão necessárias. A organização ainda informou que fará auditorias no Brasil “assim que possível e não depois do meio de maio”.

Reforma da Previdência

Ainda durante discurso na CNA, Temer falou sobre a reforma da Previdência, em análise na Câmara dos Deputados. Para o presidente, esta é a "mais complicada" das reformas.

Temer disse que o governo ainda está "ajustando" as mudanças nas regras. Um dos pontos mais criticados, inclusive por governistas, é a mudança na aposentadoria rural. Apesar dos "ajustes", Temer disse que a intenção é manter a "espinha dorsal" da reforma "intacta".

"Nós temos que dimensionar um pouco o contato, os ajustamentos que nós temos que fazer nessa área porque muitos levantam temas referentes aos trabalhadores rurais, da economia familiar [...] Estamos dialogando para ajustar uma reforma previdenciária que mantenha a sua espinha dorsal intacta para revelar externa e internamente que nós reformulamos o sistema previdenciário no país", declarou o presidente.

O evento

Durante o evento da CNA, o presidente da entidade, João Martins, entregou a Michel Temer um documento no qual listou aquilo que o setor considera gargalos nas áreas de infraestrutura e logística. Nesse mesmo documento, a confederação apresentou algumas sugestões de mudanças para melhorar o escoamento da safra de grãos.

Segundo o presidente da CNA, a prioridade no setor de logística é a consolidação dos corredores de escoamento da produção agropecuária nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Juntas, essas três regiões são responsáveis, segundo a CNA, por mais da metade da produção de grãos.

A CNA também defendeu, no documento levado ao presidente, a "necessidade" de novos modelos de concessão e parcerias com o setor privado. A entidade também pediu regulação "longeva" desses modelos.

Além de Temer, estiveram presentes ao evento da CNA alguns parlamentares, entre os quais os senadores Ana Amélia (PP-RS), Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Waldemir Moka (PMDB-MS), além dos ministros Blairo Maggi (Agricultura) e Maurício Quintella (Transportes).

Por Gustavo Garcia, G1, Brasília