"Mudou o São João, ou mudou eu?"
Rebuscando recentemente no baú do passado, onde estão guardadas parte das muitas crônicas que neste espaço tive oportunidade de comentá-las, garimpei uma delas que muito apropriadamente diz respeito com essa época magica que se vive essa festa inebriante que é o São João. Nela me vi na ocasião fazendo uma viagem na máquina do tempo e mergulhado nas lembranças do meu tempo de menino, relato que se torna presente no momento atual, tal como se viveu naqueles anos de ouro.
Vale a pena, portanto, ser relembrada: Chega mais uma vez o tão esperado período junino, festa típica do nosso sofrido nordeste e tão ansiada por uma grande maioria de pessoas apaixonadas pelo ritmo contagiante do forró, do gosto inebriante do licor de jenipapo, do milho assado, da canjica, da fogueira e dos balões. Mas, por onde anda aquele São João, que embalava a minha fantasia de criança, que me extasiava naqueles momentos inesquecíveis do recebimento dos fogos pirotécnicos que me eram presenteados por meu pai, com a sua costumeira recomendação e cuidados paternos, como se levasse algum perigo em soltar inocentes traques ou chuvinhas de prata, que mal nenhum faziam a não ser, deixar saudades e lembranças do seu maravilhoso espocar luminoso e aquele cheiro inconfundível da pólvora queimada que permanece entranhada ainda hoje nas lembranças da minha mente?
Aquele São João vai ficando cada vez mais distante com o passar dos anos e hoje, debruçado na janela do tempo, fico observando o presente, analisando a grande diferença como se comemora essa festa tão inebriante, transformada em máquina de arrecadação de dinheiro por empresários, grupos e bandas de “forró’’, que do ritmo verdadeiro, somente tem mesmo o nome, nunca chegando perto sequer daqueles saudosos arrasta pés, animados por sanfonas, triângulos e zabumbas que encantavam gerações .Lembro de uma das mais significativas recordações desse tempo junino, que era a famosa “guerra de espadas” travada entre os grupos simpatizantes dos donos das fogueiras de ramo, ricamente ornamentadas de atrativas prendas, inclusive dinheiro vivo, desafiadoramente penduradas no alto de suas ramagens, que após tendo sua base de tronco de madeira incendiada, eram “comidas”, ou melhor, disputadas suas prendas com intensa troca das limalhas das espadas, portadas pelos mais valentes participantes, sendo as mais cobiçadas e disputadas, as fogueiras do Velho Braz, radical italiano dono de um alambique da Rua do Barro, a do Tiro de Guerra 127, também no mesmo bairro e a mais temida, a do Dr. Ângelo Brandão, na antiga Várzea, local onde hoje está localizado o Mercado Velho.
Voltando a rever o filme do tempo, ainda ressoa em meus ouvidos aqueles sons saudosos das inesquecíveis músicas típicas da época, em que a letra de uma delas dizia...
“O balão vai subindo, vem caindo à garoa, o céu é tão lindo e a noite tão boa, São João, São João, acende a fogueira no meu coração.”
Mudou o São João, ou mudou eu?
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