Pesquisa mostra que otimismo ainda arrefece; vida pessoal é considerada em situação melhor que a do país
Folha de São Paulo - Enquanto economistas preveem inflação controlada e abaixo da meta pelo terceiro ano consecutivo, quase a metade (48%) dos brasileiros espera que ela aumente, mostra pesquisa Datafolha. No indicador, que varia de 0 a 200 — e números abaixo de 100 indicam pessimismo — a expectativa em relação à inflação ficou em 59.
Dos cinco itens econômicos pesquisados para o Índice Datafolha de Confiança na semana passada, a carestia — encarecimento do custo de vida — foi o maior motivo de apreensão.
Por outro lado, ainda que o desemprego venha se mantendo alto — em torno de 12% — a maioria da população não vê risco de ser demitida. Já considerando o panorama nacional, 31% acreditam em alívio do desemprego daqui para a frente, embora os pessimistas sejam mais numerosos, chegando a 45%.
Também quando se pergunta sobre a situação econômica no futuro, a visão sobre si mesmo é mais positiva que a expectativa para o conjunto do país. Enquanto 55% dos brasileiros acham que sua própria situação vai melhorar, 45% esperam alívio para o Brasil e 19% anteveem piora.
O movimento mais expressivo nas projeções aconteceu em relação ao poder de compra. Um terço manteve-se à espera de piora, mas a fatia dos que acreditam em melhoria caiu de 34% para 29%.
A maior parcela é a dos que acham que o poder de compra vai ficar como está: 37%, contra 30% em maio. Neste caso, há sintonia com o movimento econômico: a renda per capita está há três anos estagnada 8% abaixo do trimestre anterior à recessão, e sem perspectiva de melhora em 2019.
No geral, os resultados mostram que o otimismo com a economia pessoal e a do país — que em abril havia registrado uma queda inédita para início de um primeiro mandato — continua recuando.
Nenhuma das respostas nos cinco parâmetros pesquisados — desemprego, inflação, contas pessoais, situação do país e poder de compra — mostrou inversão de tendência fora da margem de erro.
Já uma melhora expressiva nos dois componentes de imagem — as avaliações do orgulho de ser brasileiro e do Brasil enquanto país para morar — compensou o pessimismo econômico, deixando o Índice Datafolha de Confiança estável entre abril e julho.
Após uma queda de 148 pontos (antes da posse do presidente Jair Bolsonaro) para 124 em abril, o índice ficou em 123 pontos em julho, resultado que mostra confiança positiva. Cada item é calculado subtraindo-se menções negativas das positivas. Ao resultado é adicionado 100, para evitar dados negativos.
Nas pesquisas realizadas em 2017, o índice esteve sempre negativo, e, nas duas primeiras medições de 2018, aproximou-se da neutralidade (99 e 101, em abril e junho).
O orgulho de ser brasileiro, que cresce há dois anos, é expressado por 3 a cada 4 brasileiros. Para 68%, o país é um lugar bom ou ótimo para se viver; 20% consideram o Brasil regular e 11% dizem que ele ruim ou péssimo.
A polarização entre eleitores de Bolsonaro e do petista Fernando Haddad na última eleição presidencial continua marcante em relação à economia. A situação do país vai melhorar para 66% dos que votaram no atual presidente e a economia pessoal será melhor para 67% deles.
Já entre os eleitores de Haddad, 40% esperam melhora na própria situação econômica, e só 26% estão otimistas em relação ao país. Nesse item, houve um acirramento no pessimismo: a distância entre eleitores de Bolsonaro ou do PT que esperam uma piora na situação do país passou de 27 pontos percentuais, em abril, para 37 em julho.
É grande também a polarização em relação à corrupção: 60% dos eleitores de Haddad acham que ela vai aumentar, contra 27% dos que elegeram Bolsonaro. Acreditam em queda da corrupção 52% dos bolsonaristas, contra 14% dos que votaram no petista.
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