Ibovespa recuou quase 3% e dólar teve a maior alta contra o real desde março, negociado a 4,04 reais
Fazia tempo que não se via uma reação tão forte dos mercados a sinais de uma nova recessão global. Os temores de uma recaída após a crise de 2008 – da qual o mundo ainda não se livrou totalmente – bateram como um “efeito dominó” sobre as bolsas globais. O mercado brasileiro não ficou imune.
O principal índice da bolsa brasileira sofreu uma queda generalizada em todas as 66 ações, pressionado pela Petrobras e Vale, em baixa de mais de 3%. O Ibovespa recuou 2,94% nesta sessão, aos 100.258 pontos.
O temor de recessão fez o mercado correr para ativos considerados mais seguros, como a moeda norte-americana. O dólar se fortaleceu contra as moedas emergentes e acelerou os ganhos contra o real após abrir a sessão acima de 4 reais.
A moeda norte-americana terminou o dia negociada a 4,0405 reais, em alta de 1,85%. Foi a maior valorização desde 27 de março e o patamar mais elevado para um fechamento desde 23 de maio (4,0474 reais). “O mercado correu para a proteção novamente”, disse à Reuters o superintendente da Correparti Corretora, Ricardo Gomes da Silva.
Reação em cadeia nas bolsas globais
Os índices de ações tiveram forte queda nas principais bolsas do mundo. Em Wall Street, o Dow Jones caiu 3,05%, indo a 25.479,42 pontos. Essa foi a maior queda no ano. O S&P 500 caiu 2,93%, a 2.840,60 pontos. Já o índice referência para as ações de empresas de tecnologia, o Nasdaq Composite recuou 3,02%, 7.773,94 pontos.
As bolsas europeias também tiveram fortes quedas nesta quarta. Após a divulgação de que o produto interno bruto (PIB) da zona do euro cresceu 0,2% no 2º trimestre e o PIB alemão retraiu 0,1%, o índice DAX, da bolsa de Frankfurt, fechou em queda de 2,19%, a 11.492,66 pontos – o menor patamar desde março. Na Itália, a bolsa de Milão recuou 2,53% e atingiu a mínima de dois meses, a 20.020,28 pontos.
As bolsas asiáticas foram as únicas que ficaram de fora da onda de baixa. Mesmo com os dados sobre a desaceleração da economia chinesa, a bolsa de Xangai fechou em alta de 0,42%. Em Hong Kong, o principal índice do distrito, o Hang Seng subiu0,08% após três pregões de queda. No Japão, o índice Nikkei 225 teve alta de 0,98%.
O índice de volatilidade (VIX), também conhecido como índice do medo, subiu 25,80%, a 22,04 pontos. Quando o VIX está acima dos 20 pontos significa baixa capacidade de prever o futuro, com possibilidade de alta volatilidade no curto prazo. O índice ultrapassou a marca de 20 pontos pela primeira vez no semestre no dia em que a China desvalorizou o iuane a marca de mais de 7 por dólar. Na terça-feira (13), VIX havia caído para 17,59 com o esfriamento das tensões comerciais.
O gatilho para o pessimismo
Não é de hoje que o mundo teme o retorno de uma recessão global, mas tais temores vêm crescendo diante da desaceleração das potências mundiais e da piora no conflito entre EUA e China. Mais cedo, dados econômicos ruins da Ásia e Europa acenderam o alerta dos investidores, ao passo que a inversão da curva de juros gerou uma corrida por investimentos mais seguros.
Na China, os números mostraram que a economia asiática piorou mais que o esperado em julho, com a produção industrial desacelerando para uma mínima em mais de 17 anos, um claro efeito do agravamento da guerra comercial. Outro dado preocupante veio da Alemanha. A queda nas exportações fez a maior economia europeia contrair no segundo trimestre.
Mais um sinal de alerta foi a curva de juros nos EUA. O rendimento dos títulos do Tesouro norte-americano (Treasuries) de dois anos subiu acima do retorno dos papéis com vencimento em 10 anos. Isso não acontecia desde 2007, período que antecedeu a última crise financeira internacional.
Para o mercado, sempre que os juros de curto prazo (dois anos) pagam prêmios maiores que os juros longos (10 anos), é um sinal clássico de recessão.
Há motivos reais para o pânico?
Na visão do professor de finanças do Insper, Michel Viriato, existe um certo medo exacerbado do mercado. “Na verdade, não existem indícios de uma recessão. O que há é uma redução no crescimento das principais economias”.
As maiores economias do mundo vêm praticando taxas de juros historicamente baixas e até negativas. Com isso, há um excesso de recursos no mundo e investidores atentos ao menor sinal para antecipar o movimento dos bancos centrais sobre cortes de juros.
Segundo o analista da corretora Mirae Asset Pedro Galdi, a inversão dos juros é um efeito do mercado tentando se antecipar a um novo corte de juros nos EUA. “Não quer dizer que vai ter [uma recessão iminente]. É uma luz amarela de que a recessão esteja se aproximando”, afirma.
Os investidores estão fazendo uma relação com o passado, mas o momento é diferente do que aconteceu há pouco mais de uma década, quando uma crise do subprime no mercado de crédito norte-americano levou bancos a uma quebradeira, gerando um efeito em cadeia no mundo.
Fonte: Exame Abril
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