"Não vejo porque os diálogos não serem habitualmente mostrados - e as imagens também", afirmou Guilherme Bellintani, presidente do Esquadrão

Após o primeiro turno de utilização do VAR (árbitro de vídeo) no Campeonato Brasileiro, mais da metade dos clubes da Série A - entre os times, o Bahia - defende mudanças. O pedido principal é a liberação das imagens revistas no vídeo e do áudio das conversas entre o árbitro de campo e os auxiliares da cabine.

Os cartolas também querem que os torcedores no estádio saibam o que está sendo analisado. Para eles, a tecnologia só deve ser usada para reverter uma decisão caso a marcação do juiz no gramado seja um erro claro.

O Estado consultou os 20 clubes da elite do futebol brasileiro sobre o árbitro de vídeo. Doze se pronunciaram, propondo alterações. Foram eles: Bahia, Atlético-MG, Ceará, Fortaleza, Goiás, Internacional, Chapecoense, Avaí, Palmeiras, Vasco, Fluminense e Flamengo.

Oito não quiseram se manifestar sobre o VAR (Corinthians, São Paulo, Santos, Grêmio, Cruzeiro, Botafogo, Athletico-PR e CSA).

"Não vejo porque os diálogos não serem habitualmente mostrados - e as imagens também, mesmo que seja para reconhecer erros. Afinal de contas não existe sistema que não tenha erros. A transparência, na nossa visão, vai servir para defender o árbitro de vídeo e não prejudicá-lo", disse Guilherme Bellintani, presidente do Bahia.

Embora não tenha se posicionado oficialmente, o Corinthians realizou palestra para os jogadores ressaltando a importância do VAR. O presidente da Comissão Nacional de Arbitragem da CBF, Leonardo Gaciba, visitou o clube na semana passada e tirou dúvidas dos atletas.

"A reunião serviu para que membros de comissão técnica e atletas entendessem mais sobre novas regras e sobre como operam na checagem dos lances para que todos tenham melhor compreensão das mudanças", comentou o gerente de futebol do Corinthians, Vilson Menezes.

Existem quatro tipos de lances que podem ser analisados pelo VAR, segundo o Conselho da Federação Internacional de Futebol (Ifab, na sigla em inglês): se foi gol ou não, se houve pênalti, erro de identificação para aplicar um cartão e se a jogada foi ou não para vermelho direto.

"O Atlético-MG considera que a publicação e a publicidade de áudios e vídeos do VAR são a chave do processo. Isso é fundamental", opinou Lásaro Cândido da Cunha, vice-presidente do Atlético-MG.

Posição da CBF
A CBF ainda não se manifestou oficialmente sobre as reclamações dos clubes. Em evento realizado em agosto, a entidade sinalizou que deverá atender boa parte das solicitações a partir da primeira rodada do returno, marcada para o próximo final de semana.

A entidade anunciou que as revisões do VAR terão as imagens liberadas para quem acompanha os jogos pela TV. Quem estiver no estádio também poderá ver o vídeo utilizado para a análise do árbitro logo após a revisão dos lances.

Por outro lado, os áudios com as conversas entre o juiz de campo e o da cabine devem continuar restritos à equipe de arbitragem.

Marcelo Segurado, diretor de futebol do Ceará, propõe que os clubes tenham direito a solicitar o uso do VAR. "Seria interessante que houvesse uma ou duas solicitações ou do treinador ou do capitão da equipe em cada tempo do jogo", avaliou o dirigente.

Guilherme Bellintani retoma uma discussão antiga na arbitragem brasileira: a questão da profissionalização. "A profissionalização da arbitragem é o passo necessário para que o árbitro de vídeo seja mais bem utilizado. A profissionalização traz com ela mais formação, mais capacidade de análise, enfim, qualidade técnica geral".

O maior problema tem sido a demora para tomada de decisão no gramado. No empate entre Palmeiras e Bahia, pela 14.ª rodada do Brasileirão, dois pênaltis foram marcados para a equipe baiana após o mineiro Ricardo Marques Ribeiro, árbitro de vídeo, acionar o conterrâneo Igor Benevenuto em campo. Em cada uma das vezes, cerca de cinco minutos foram gastos para que um consenso fosse tomado sobre as infrações.

A partida teve uma duração total de 110 minutos - 20 a mais do que o tempo regulamentar. "O tempo que se toma a decisão tem de ser reduzido", disse Mauricio Galiotte, presidente do clube alviverde.

O clube paulista se considera pioneiro na discussão sobre o uso do VAR. Na final do Campeonato Paulista de 2018 contra o Corinthians, o Palmeiras alega que houve interferência externa para ajudar o árbitro Marcelo Aparecido de Souza a marcar e, depois de oito minutos, cancelar um pênalti de Ralf no atacante Dudu, no segundo tempo da decisão.

Depois de o STJD negar, por unanimidade, o pedido de impugnação da final, o clube paulista desistiu de recorrer à Corte Arbitral do Esporte (CSA, na sigla em inglês), a última instância do direito esportivo.

Fonte: Correio 24 horas