Levantamento do IBGE mostra aumento histórico no número de pessoas que se declaram pretas e pardas. Sociólogo explica o momento

O número de pessoas que se declaram pretas cresceu 32,2% nos últimos seis anos. O levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela o que, ainda em 2017, cantava o rapper Rincon Sapiência. Na letra da canção “Ponta de Lança”, o artista já afirmava que “pretos e pretas estão se amando” e que um orgulho era recuperado.

O sociólogo Tulio Custódio explica que o grupo étnico negro é formado por pretos e pardos que, juntos, somam 55,8% da população brasileira, de acordo com a pesquisa. Para ele, os números estão relacionados a uma série de fatores, e ainda não é possível dizer que vão continuar crescendo.

“Esse aumento tem a ver tanto com as políticas públicas de inclusão e transferência de renda, como a ascensão de personalidades negras que levantam a bandeira da visibilidade”, afirma Custódio.

O sociólogo explica que a política do sistema de cotas nas universidades, por si só, não é responsável pelo aumento das pessoas que se autodeclaram pretas e pardas. "O retorno social disso ainda é muito residual em relação à realidade a que muitas pessoas negras estão inseridas", afirma. 

Preto com orgulho, e influência
Mas, para além das ações afirmativas, o sociólogo também chama a atenção para a forma como as mídias têm discutido as questões de raça. “Os influenciadores que fazem conteúdos sobre estética, arte e cultura negra acabam impactando na forma como as pessoas assimilam e se colocam nesse lugar de reivindicação da identidade”, explica o Custódio.

Um dos exemplos é a youtuber Nátaly Neri, criadora do canal Afros e Afins, que compartilha desde dicas de moda e lifestlye a conteúdos relacionados a estética e autoestima negra. Com mais de 500 mil inscritos, a influenciadora se tornou uma das referências para os jovens negros na internet.

Negritude descoberta
“Eu sou negra, embora de pele mais clara, mas negra”, afirma a estudante Brena Barreto, de 26 anos. Ela é uma das pessoas que assumiram uma identidade racial apenas nos últimos anos e explica que o contato com pessoas negras que defendiam a necessidade de se autoafirmar foi decisivo.

Me sentia em um ‘não lugar’ e ouvia que era morena.
Brena Barreto

“Acho que dentro de mim eu sempre soube que não era branca, mas me sentia em um ‘não lugar’, ouvia que eu era morena, queimada de sol etc.”, relembra a estudante. “Tudo mudou, porque eu pude reconstruir o olhar que eu tinha sobre o outro e sobre mim”, completa Brena.

Já Júlia Matos, de 19 anos, é fruto de um relacionamento inter-racial e demorou muito tempo para se entender enquanto uma pessoa negra. "Escutava que minha pele era clara demais para ser negra e que tinha um nariz largo, uma boca grande e um cabelo crespo demais para ser branca", conta.

Fonte: Portal R7