Todas as segundas-feiras lançamos uma coluna na área de psicologia, com a jacobinense Priscila Carvalho
O Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) define como automutilação qualquer comportamento intencional envolvendo agressão direta ao próprio corpo sem intenção consciente de suicídio. O comportamento de autoagressão tem um padrão de repetição e as principais características do transtorno, são pequenos cortes superficiais feitos pelo próprio adolescente, em locais do corpo que possam ficar escondidos sob a roupa, sendo os braços o local mais comum. Outros exemplos de autoagressão são: Queimar (com fósforos acesos, cigarros ou objetos quentes e afiados como facas); Esculpir palavras ou símbolos na pele; Bater ou perfurar; Perfurar a pele com objetos pontiagudos; Puxar o cabelo.
Também conhecida como cutting (termo americano para a palavra cortar), a automutilação foi reconhecida no ano 2013 pela Associação Americana de Psiquiatra como sendo um transtorno mental, desde então tem sido realizadas pesquisas nos Estados Unidos e Reino Unido com o objetivo de compreender porque esta prática tem se tornado tão popular entre os jovens.
No Brasil, pesquisas recentes revelam um crescimento no número de atendimentos a jovens que praticam a automutilação. Sendo em sua maioria adolescentes do sexo feminino, com idade entre 13 e 17 anos. Devido ao aumento na constatação de casos, em maio deste ano, foi sancionada a lei que cria a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio. A lei cria um sistema nacional, com estados e municípios, para prevenção do suicídio e da automutilação e um serviço telefônico gratuito para atendimento ao público.
Porque alguém se fere intencionalmente?
O psiquiatra Emerson Arcoverde explica, que a automutilação é um fenômeno causado em geral pela necessidade de o paciente expressar um pedido de ajuda através do sofrimento. “Muitas vezes é para aliviar um sofrimento psíquico, para demonstrar que realmente alguma coisa está muito errada e fazer com que ele suporte o que não consegue suportar de maneira realmente psicológica. Ele não dá conta daquele sofrimento, então, usa mão de um sofrimento físico para tentar suportar um sofrimento psíquico. Então, quanto mais a gente tiver suporte emocional para essas pessoas, de acompanhamento, de proximidade e capacidade de diálogo e de escutar, mais facilmente a gente vai conseguir que ele substitua a automutilação por uma maneira saudável de falar e de lidar o sofrimento.”
O que motiva o comportamento de automutilação?
O comportamento de autoagressão está relacionado à incapacidade de lidar com os próprios sentimentos, pode ser desencadeado por insegurança, baixa autoestima, impulsividade, problemas na infância (negligência, abuso, estresse), dificuldades sociais (bullying), problemas familiares (pais divorciados ou ausentes), violência doméstica, rejeição social, perdas, problemas em casa, medo, raiva, entre outros sentimentos e situações. Além disso, a automutilação também é um dos critérios para diagnóstico de transtornos psiquiátricos, como transtorno boderline e depressão.
Como identificar o comportamento de automutilação?
Os principais sinais são a mudança repentina de comportamento, como isolamento e irritabilidade, e o uso constante de roupas que escondem o corpo, especialmente os braços e pulsos, mesmo em calor intenso; fique atento também quando o adolescente tem necessidade de ficar sozinho por longos períodos de tempo, especialmente no quarto ou local de banho; quando apresenta feridas inexplicáveis ou cicatrizes de cortes, contusões ou queimaduras, geralmente nos pulsos, braços ou coxas.
Lembre-se que o profissional responsável pelo diagnóstico e tratamento da automutilação é o médico psiquiatra, que deverá avaliar a necessidade do uso de medicamentos. Nestes casos, o adolescente deve ser encaminhado para a psicoterapia com uma Psicóloga/ um Psicólogo, pois aprender a lidar com as próprias emoções de forma saudável será imprescindível para alguém que apresente o comportamento de autoagressão.
A atitude dos pais
A melhor maneira de prevenir essas situações é dedicando tempo de qualidade aos filhos de maneira individual, permitir que as crianças e adolescentes falem sobre seus sentimentos e exponham suas emoções é importante para que elas aprendam a lidar com suas dificuldades. O ambiente familiar deve oferecer amor, respeito e atenção. Realizem atividades juntos e não minimize o que os jovens descrevem como sofrimento.” O maior presente que os pais podem dar aos filhos é a presença”.
Diante da prática da automutilação, lembre-se que seu filho não se corta para chamar a atenção, ele deseja minimizar um sofrimento, acolha, demonstre seu afeto, não brigue. E não esqueça que a automutilação é um transtorno, você precisará de ajuda profissional, médica e psicológica.
Do colunista
Do colunista
Priscila Carvalho Vilas Boas, baiana, jacobinense da encantadora Vila de Itaitu, Psicóloga Clínica de Abordagem Fenomenológico Existencial (CRP 03/19167), Psicoterapia Breve para jovens e adultos, e Orientação Profissional para adolescentes na região de Cachoeira-BA.
CRP 03/19167
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