Foram, ao menos, 14 mulheres que denunciaram o líder religioso e ex-grão-mestre e uma loja maçônica na Bahia, Jair Tércio Cunha Costa, por abusos sexuais e psicológicos. Uma dessas é a pedagoga Tatiana de Amorim Badaró, que namorava um jovem que frequentava os encontros. Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, ela conta que buscou amparo emocional na doutrina após ficar grávida.
Tatiana foi a primeira mulher a denunciar o crime que diz ter sofrido de Jair Tércio, por 12 anos, entre 2002 e 2014. Ela também disse que o líder chegava a impor a profissão dela.
"Eu não pude escolher profissão, ele determinou que era pedagogia. Eu fui obrigada a trabalhar na escola que ele fundou. Me afastei de minha mãe por ordem dele, tive que mudar celular, apagar e-mail e criar outro e-mail para que ninguém da minha vida tivesse contato comigo", revelou ao Fantástico.
"Todo tempo um terrorismo psicológico, uma ameaça de retaliação espiritual. Porque ele nunca diz que ele vai fazer, ele diz que a espiritualidade vai resolver, a 'espiritualidade vai te cobrar, porque você teve a chance de viver perto de um iluminado e não aceitou'", disse, ao Fantástico, a pedagoga.
Já os estupros teriam começado quando ela foi convidada a preparar uma palestra na casa de Jair Tércio.
"Ele disse que precisava equilibrar minha energia. Na primeira noite foi só isso, na semana seguinte passou a mão em mim dizendo que tava equilibrando meus chacras e na seguinte ele penetrou dizendo que precisava jogar a energia dele dentro de mim", contou Tatiana.
"Eu me sentia péssima. Eu chegava em casa e vomitava e com isso eu me afastei mais ainda de todo mundo. Inclusive das pessoas da seita, porque ele fala que ninguém é confiável, que a gente só pode confiar nele", contou Tatiana.
A denunciante disse também que Jair Tércio criava intrigas. Após os abusos, Tatiana entrou em depressão e engordou 20 kg ao receber uma carta do guru, onde ele revelava que Vi, pai do filho dela, não sentia mais desejo pela companheira.
A denúncia só foi feita ao grupo As Justiceiras após ela descobrir que outras mulheres passaram pela mesma situação. Tatiana afirmou que sofreu ameaças anônimas depois de fazer a denúncia.
A promotora do Ministério Público da Bahia (MP-BA) responsável pelo caso, Gabriella Manssur, afirmou que a maior dificuldade nesses casos é de comprovar os atos. "Mas se nos conseguimos reunir vários depoimentos, há provas de que esses fatos ocorreram".
"São vitimas mulheres, muitas meninas, e o que mais chama atenção é que esses abusos ocorrem por um longo período, se prolongam no tempo, fazendo com que elas entendam que aquilo faz parte de um ritual, de um tratamento", disse a promotora.
Outra vítima, que não quis revelar a identidade, disse que não conseguiu se defender das ações. "Ele me tocou. Tocou nos meus seios, me masturbou, mandou me virar. Aquilo foi me deixando estática e ele foi fazendo, foi me molestando, foi mexendo em mim", revelou.
'Consensual'
O advogado do suspeito, Fabiano Pimentel, nega os estupros. Segundo ele, "por ser uma pessoa solteira, um homem solteiro, o líder teve alguns relacionamentos amorosos, mas que em nenhum momento houve qualquer tipo de violência seja psicológica ou física a ensejar qualquer tipo de crime de estupro ou importunação nesse sentido".
A Grande Loja Maçônica da Bahia disse, em nota, que suspendeu os direitos maçônicos de Jair Tércio. "A maçonaria não tem responsabilidade nenhuma com relação aos atos dessa pessoa".
Adolescente
Em boletim de ocorrência registrado em Salvador, o MP-BA investiga um telefonema onde aparecem as vozes de Jair Tércio e a de uma menor de idade. No diálogo, a adolescente pergunta ao homem se ele tirou a virgindade dela. Ele nega e diz: "Comigo não é relação, não. Comigo foi carinho, foi amor".
Na sequência, a adolescente diz que a mãe dela vai levá-la ao ginecologista e ele pede para que ela evitasse. "Você não vai. Esqueça isso, minha filha. Pelo amor de Deus, viu?", disse.
O advogado de Jair Tércio afirma que o guru nega qualquer tipo de envolvimento em relação a menores ou estupro de vulneráveis.
Fundação Ocidemnte
Em nota, a Fundação Ocidenmte, onde Jair Tércio atuou até 2017, disse em nota que não possui não possui mais nenhuma relação com o líder.
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