Pandemia diminuiu corridas e investimento já não compensa como antes
A situação já não estava boa. Com a pandemia e as medidas restritivas, as corridas por aplicativo foram sensivelmente reduzidas. Em seguida houve reajuste das locadoras de veículos. A gota d’água foram os sucessivos aumentos da gasolina nos três primeiros meses de 2021, seis ao todo. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), desde o início do ano, a gasolina acumula alta de 54% nas refinarias, enquanto o diesel subiu 41,6%. Para um consumidor comum de Salvador, isso representa a elevação do custo do combustível em mais de R$ 1,00 por litro. Os motoristas de aplicativo, que precisam abastecer com frequência, viram que a conta já não fecha e muitos desistiram de trabalhar no ramo.
“Antes de dezembro, a gente conseguia fazer R$ 200, R$ 250 em um dia e gastava R$ 50 de combustível. Agora, os motoristas estão fazendo com muito sacrifício R$ 100 e tendo R$ 70 de custo de gasolina. A categoria já estava ferrada com a redução de pessoas nas ruas e esses aumentos abusivos vieram para dar o tiro de misericórdia. É por isso que desisti de rodar por aplicativo”, contou Washington Cruz Fera de Almada, 47 anos, que há pouco mais de um mês tira o sustento da família com corridas privadas.
“Já não dava mais. Estava pagando para rodar. O que era meu ganha-pão, virou um problema. Até dezembro ainda era possível equilibrar as contas, mas com os aumentos desenfreados ficou impossível. O carro não se mantém só de combustível. Temos o custo com os pneus, óleo, suspensão, lavagem, no mínimo duas ou três vezes na semana para ser aceitável no mercado... No final de tudo, não dava mais para mim”, detalhou Washington.
Preços nos postos
Em dezembro ainda era possível abastecer em Salvador pagando R$ 4 em um litro de gasolina. Menos de três meses depois, o mesmo produto era encontrado por, no mínimo, R$5,05 e chegava a custar até R$ 5,90 em alguns postos da cidade. Com o sexto aumento anunciado pela Petrobrás e que passou a vigorar desde anteontem, o litro, em média, é encontrado por R$ 5,89 e em alguns postos o valor chega a R$ 5.99.
A situação relatada por Washington Cruz é confirmada pelo Sindicato dos Motoristas por Aplicativos e Condutores de Cooperativas do Estado da Bahia (Simactter-Ba). “Está acontecendo nos grupos (de WhatsApp) que participo. Muitos estão deixando de rodar, principalmente quem paga aluguel de carro, pois com os aumentos do combustível ficou pedado demais. Não temos um número para cravar, mas os relatos são muitos”, declarou um dos dirigentes da Simectter-Ba, Jean Moura.
Ele acrescentou que a situação é preocupante e que se algo não for feito para modificar a situação, muitos carros de aplicativo vão deixar de circular, "trazendo um prejuízo não só para a população, que ficará carente do serviço, bem como para a economia, pois representamos uma fatia significativa do mercado consumidor”, acrescenta.
De acordo com a instituição, Salvador tem hoje 28 mil motoristas por aplicativo. O CORREIO procurou as empresas Uber e 99 Pop, duas das prestadoras de serviço por aplicativo que rodam em Salvador, para repercutir a situação relatada pela categori, mas até o fechamento desta edição, às 23h de ontem, as duas empresas não haviam se posicionado.
Locação
A situação é complicada também para quem alugava carro para trabalhar. Átila de Oliveira, 32, rodou até janeiro. Daí o aluguel mensal que ele pagava reajustou de R$ 1.630 para R$ 1.930. Logo depois, a gasolina subiu. “Não bastasse o aumento do aluguel, veio a alta do combustível. Preferi devolver o carro”, contou ele, que atualmente fazia bico de garçom em um restaurante da orla que fechou por conta das medidas restritivas.
Rogéria Vianna, diretora regional da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), lista três motivos para o abandono da atividade pelos profissionais que rodavam por apps:
"Primeiro, o aumento do aluguel se deu por conta do aumento dos preços dos carros. As locadoras têm como base o preço de tabela do carro. Do ano passado para cá, houve um aumento de 33%, considerando veículos populares. E as locadoras precisam renovar suas frotas. O segundo motivo são os decretos de restrições. Se você não tem público na rua, não tem as pessoas circulando, não tem cliente. Então não faz sentido alugar carro, ter esse custo, se você não tem clientes que paguem esse gasto. E, para completar, houve o absurdo aumento de combustível", enumera.
Álcool como alternativa
A maioria dos motoristas de aplicativo de Salvador trabalha entre 8 e 10 horas por dia, afirma Jean Moura, um dos dirigentes do Sindicato dos Motoristas por Aplicativos e Condutores de Cooperativas do Estado da Bahia (Simactter-BA).
O sindicato tem como parâmetro para a jornada dos condutores o limite de 12 horas estabelecido pela maior prestadora de serviço do setor, a Uber.
De acordo com a entidade, grande parte da categoria abastece os carros diariamente e, devido aos aumentos da gasolina, alguns motoristas de carros flex até optaram pelo álcool como alternativa para continuar trabalhando, o que não gerou a economia esperada.
“É uma falsa economia. A diferença é de R$ 1. O consumo do álcool no veículo é maior que o da gasolina. Então, dava tudo no mesmo. Era trocar seis por meia dúzia”, declarou Moura.
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