A Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu mais de 13 toneladas de maconha nas rodovias que cortam o estado da Bahia no ano passado, o que representa um crescimento de 22% comparado a 2020. A quantidade seria suficiente para produzir cerca de 30 milhões de cigarros, o que equivale ao dobro da população baiana. Ao total das 14,7 toneladas de drogas recolhidas, o prejuízo ao tráfico de drogas ultrapassa R$ 180 milhões. Além disso, 165 pessoas foram detidas nas operações de 2021.

A grande quantidade de maconha recolhida chega a representar 93% do total de todas as drogas, o que pode ser explicada por diversos fatores. Para Mário Henrique, policial da PRF, a maconha ser a droga mais consumida no país e possuir um baixo valor agregado, fazem com que ela acabe sendo a mais encontrada nas rodovias.

“No ano passado foram quase 14 toneladas apreendidas, que deram um prejuízo de R$ 30 milhões para o narcotráfico. Já a cocaína, com apenas 870 quilos apreendidos, causou um prejuízo de R$ 150 milhões ao crime organizado”, explica Mário Henrique sobre o preço baixo da droga. “Pelo fato do valor da maconha ser menor, tem mais droga circulando e, consequentemente, mais apreensões”, acrescenta.

Sandro Cabral, professor de Estratégia e Gestão Pública do Insper e licenciado da UFBA, lembra que a Bahia está próxima do chamado polígono da maconha, formado por cidades de Pernambuco que possuem intensa produção e tráfico da droga: “O estado está próximo de regiões produtoras, isso ajuda a explicar o volume das drogas. A Bahia acaba sendo o elo de ligação entre o nordeste setentrional e o eixo sul-sudeste do país”.

A maior apreensão de 2021 no estado ocorreu em 16 de setembro, em Vitória da Conquista. Na ocasião, 2.770 quilos de maconha foram encontrados em meio a um carregamento de feno. Segundo a PRF, o motorista relatou que trazia a droga de Ourinhos, em São Paulo, e que o destino era a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Ele receberia 6 mil reais pelo transporte. Depois de serem apreendidas nas rodovias, as drogas são encaminhadas para a polícia judiciária, que decide o destino final. Na maioria das vezes o material é incinerado.

Rota da maconha

Como a Bahia é o quinto maior estado do Brasil e faz divisa com oito estados da federação, acaba funcionando como “corredor de estradas”, ficando propensa a ter drogas circulando no território, de acordo com Sandro Cabral. Sobre as localidades em que são feitas as maiores apreensões, o policial Mário Henrique faz dois destaques: “Além de Vitória da Conquista, em Feira de Santana há um grande entroncamento, com saídas para várias cidades e estados. Naquele anel viário também são feitas quantidades expressivas de apreensões”.

A cientista social e pesquisadora através da Iniciativa Negra, Luciene Santana, explica que as operações feitas em rodovias costumam ter uma baixa letalidade e serem efetivas por serem estudadas anteriormente. “Na Iniciativa Negra, nós acreditamos que a forma de fazer segurança pública com operações que utilizam inteligência, planejamento e organização previne mortes'', afirma.

Além da maconha, os outros 7% do total de drogas recolhidas de circulação pela Polícia Rodoviária Federal são divididos em diversos tipos de substâncias ilícitas. Foram 870 quilos de cocaína apreendidos no ano passado, que renderam um prejuízo de R$ 150 milhões ao narcotráfico. Segundo a PRF, o Brasil não é um grande produtor da cocaína, mas é um pólo consumidor e serve como depósito e plataforma para exportação da droga para outros países.

Cerca de sete mil comprimidos de ecstasy foram encontrados, além de quase quatro mil unidades de anfetaminas. Essas últimas substâncias costumam ser utilizadas por motoristas para diminuir o sono e, assim, dirigir mais tempo. A médica Liz Cedraz alerta que quando o efeito da droga é cessado, os efeitos são de cansaço intenso e redução da atenção, que podem ocasionar acidentes graves.

Ainda foram apreendidos 104 quilos de crack e cerca de 16 quilos de substâncias derivadas da maconha, como o haxixe, produzido através da resina da cannabis sativa e o skunk, produzido em laboratório através do cruzamento de tipos de maconha. Os efeitos dessas drogas costumam ser mais prejudiciais do que a da maconha e também possuem maior valor agregado.

Porto de Salvador é porta de entrada e saída de cocaína

Todos os especialistas ouvidos para esta reportagem afirmam que é difícil precisar qual o caminho que as drogas percorrem ao passarem pelo estado da Bahia. “As drogas não tem um padrão de rota, existem várias tanto do norte para o sul, como do sul para o norte. Eles diversificam a forma de transporte e de itinerário justamente para ludibriar as apreensões”, diz o policial Mário Henrique.

O que é possível dizer com certeza é que muitos dos entorpecentes, em especial a cocaína, que atravessam o estado e chegam a capital baiana tem como destino outros países. No ano passado, segundo dados da Receita Federal, 1,3 tonelada da droga foi recolhida no Porto de Salvador. Só no mês de maio, foram apreendidos um pouco mais de 880 quilos de cocaína, que tinham como destino a Bélgica e a França.

Segundo o auditor fiscal da Receita Federal, Roberto Neri, as drogas encontradas no porto tem origem em países como Peru, Equador e Colômbia. "A partir do momento que conseguimos interceptar essas drogas aqui no Brasil, reduzimos o poder financeiro de organizações criminosas e, consequentemente, diminuímos outros crimes que poderiam ser feitos no país", explica

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