Uma mulher identificada como Sabine Boghici foi presa na manhã desta quarta-feira (10/8), na zona sul do Rio, sob a acusação de aplicar um golpe milionário contra a própria mãe, a francesa Geneviève Boghici, de 82 anos. Sabine é filha do romeno Jean Boghici, um dos maiores colecionadores e negociantes de artes do Brasil, morto em 2015.

Investigações da Polícia Civil apontam que uma quadrilha, supostamente liderada por Sabine, roubou cerca de R$ 725 milhões em obras de arte, joias e dinheiro de Geneviève. O bando se passava como vidente para aplicar o golpe contra a vítima.

Além de Sabine, acusada de subtrair 16 peças de artistas consagrados, foram presos Gabriel Nicolau Traslaviña Hafliger, Jacqueline Stanescos e a vidente Rosa Stanesco Nicolau, conhecida como Mãe Valéria de Oxossi.

Dentre os quadros, existiam trabalhos de renomados artistas, como Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral. O nome que batiza a ação faz alusão ao quadro Sol Poente, de Tarsila – avaliado em R$ 250 milhões e encontrado por policiais embaixo da cama da Rosa Stanesco.

Esse quadro de Tarsila, inclusive, foi resgatado de um incêndio ocorrido na casa de Jean Boghici em Copacabana, em 2012. Na ocasião, obras milionárias foram destruídas.

Ao todo, seis mandados de prisão e 16 de busca e apreensão foram expedidos. O caso é investigado pela Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade.

O golpe

De acordo com a Polícia Civil, Sabine é responsável por articular o plano. Em janeiro de 2020, ela contratou uma mulher, que se passava por vidente, para abordar Geneviève na rua e dizer que alguém de sua família morreria em breve.

A partir desse ponto, a francesa foi apresentada para outras duas mulheres – uma seria cartomante e a outra, mãe de santo. O grupo pediu, então, que ela pagasse por “um trabalho” para salvar a vida de sua filha.

Apenas nas primeiras duas semanas, Geneviève movimentou R$ 5 milhões para a quadrilha. Para prosseguir com o plano, Sabine dispensou funcionários que trabalhavam para a mãe, em Copacabana, e começou a isolar Geneviève dentro da residência.

Entre 2020 e 2021, segundo as investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Sabine começou a agredir fisicamente e ameaçar de morte a mãe. Ela negava comida para a idosa para obrigá-la a pagar o suposto tratamento espiritual.

Segundo a Polícia Civil, apenas comparsas visitavam o apartamento da vítima, que era mantida em cárcere privado. A idosa fez 39 transferências bancárias para Gabriel, filho da vidente, no valor de R$ 3.990.900, o que configura a prática de extorsão.

Ao todo, 16 obras de arte foram roubadas. Três delas, avaliadas em mais de R$ 300 milhões, foram recuperadas em uma galeria de arte de São Paulo. O dono do estabelecimento confirmou à polícia que vendeu outros dois quadros para o Museu de Arte Latino-Americano e disse não ter desconfiado do golpe, por conhecer a família.

Vítima é viúva de um dos maiores galeristas do Brasil

A francesa Geneviève Boghici é viúva do romeno Jean Boghici, um dos maiores colecionadores de arte do Brasil. Ele morreu em 2015, aos 87 anos, no Rio de Janeiro, vítima de embolia pulmonar. Presa nesta quarta-feira acusada de aplicar golpe milionário na mãe, Sabine Boghici é filha única do casal.

Em 2012, parte do acervo de Jean foi destruído em um incêndio que atingiu o apartamento da família em Copacabana.

Entre as obras destruídas, estavam Samba (1925), de Di Cavalcanti; e Floresta Tropical (1938), de Guignard. Já o quadro Sol Poente, de Tarsila, avaliado em R$ 250 milhões, foi resgatado no incêndio. Ele foi encontrado por policiais embaixo da cama da vidente Rosa Stanesco, também presa na operação desta quarta-feira.

Confira as obras levadas, segundo as investigações:

1) O Sono, de Tarsila do Amaral: R$ 300 milhões;
2) Sol Poente, de Tarsila do Amaral: R$ 250 milhões;
3) Pont Neuf, de Tarsila do Amaral: R$ 150 milhões;
4) Ela, aquarela, de Cícero Dias: R$ 1 milhão;
5) Aquarela sem título, de Cícero Dias: R$ 1 milhão;
6) Desenho representando uma paisagem, 1935, de Alberto Guignard: R$ 150 mil;
7) Rue des Rosiers, de Emeric Marcier: R$ 150 mil;
8) Église Saint Paul, de Emeric Marcier: R$ 150 mil;
9) Porto de Pesca rem Hong-Kong, de Kao Chien-Fu: R$ 1 milhão;
10) Coruja ao Luar, de Kao Chi-Feng: R$ 1 milhão;
11) Retrato, de Michel Macreau: R$ 150 mil;
12) Mulher na Igreja, de llya Glazunov: R$ 500 mil;
13) Mascaradas, de Di Cavalcanti: R$ 1,5 milhão;
14) O Menino, de Alberto Guignard: R$ 2 milhões;
15) Maquete Para Meu Espelho, de Antônio Dias: R$ 1,5 milhão;
16) Elevador Social, de Rubens Gerchman: R$ 1,5 milhão.

Metrópoles