Em 24 de junho de 1722, Pedro Barbosa Leal instalou o município de Jacobina, com status de Vila, próximo ao que hoje é o município de Campo Formoso. Dois anos depois, a Vila foi transferida para onde se encontra atualmente o município jacobinense. Em junho de 2022, depois de uma série de debates em audiências públicas, historiadores, políticos e sociedade civil uniram-se para fixar o dia 24 do referido mês como o aniversário do município através da Lei Nº 1920, denominada Doracy de Araújo Lemos. Portanto, Jacobina esteve oficialmente apagando as velinhas do seu tricentenário.

Quando pensamos na escala de tempo da vida humana, 300 anos é um tempo relativamente extenso, capaz de nutrir um emaranhamento histórico com diversos acontecimentos. No entanto, quando comparamos esse período à idade do planeta Terra, cerca de 4,6 bilhões de anos, 300 anos tornam-se um fragmento imperceptível na vastidão do tempo geológico, que, para compreender, a mente humana necessita de um exercício de abstração, dada a profundidade desse tempo diante do nosso curto lapso de vida.

O tempo geológico é marcado pela formação cíclica de continentes, cadeias de montanhas, oceanos, grandes desertos, glaciares etc., causados por processos internos e externos do planeta. Alguns desses registros ficam marcados nas rochas e é o geólogo o profissional responsável por descrever e interpretar essas características, desvendar o passado e reconstruir a história das formações geológicas e dos seus paleoambientes. E foi uma equipe destes profissionais que, a partir do estudo geocronológico em rochas de uma pedreira inativa localizada no bairro Mutirão, estabeleceu que as rochas mais antigas do município jacobinense possuem idade de aproximadamente 3.430.000.000(três bilhões e quatrocentos e trinta milhões) anos. O método consistiu em analisar elementos radioativos, presentes na rocha em baixíssima concentração, para determinar a sua idade absoluta através da técnica de ablação a laser. Essas rochas são denominadas migmatitos e constituem um complexo rochoso de aproximadamente 400 km, que se estende desde Juazeiro até o município de Ruy Barbosa, e são consideradas as mais antigas da América do Sul.

Nessa época, a Terra, com pouco mais de 1 bilhão de anos, começava a formar os primeiros continentes e possuía uma atmosfera deficiente em oxigênio, onde prevaleciam integralmente as formas de vida unicelulares e simples, as bactérias. Essas rochas correspondem a parte da fusão de antiga crosta oceânica, que posteriormente passaram por uma série de transformações por aumento de pressão e temperatura, até atingirem o estado atual.

É fato que as unidades geológicas transcendem em tempo e espaço as divisões territoriais político-administrativas, estas muito mais recentes, mas o registro da idade dessa rocha no território jacobinense valoriza ainda mais o município e corrobora para ações que visam a conservação desse patrimônio geológico, que contém ainda em seu território uma geodiversidade que conta parte importante da história do Planeta Terra. O local aqui sinalizado comporá o patrimônio geológico do município de Jacobina, nomeado como geossítio Pedra Branca.

Do autor: Ivison Iurian é jacobinense, graduando do curso de Geologia pela Universidade Federal da Bahia, amante do tempo e das suas transformações.

Referências:

Barbosa, J.S.F., Luciano, R.L., Filho, B.E.C., Santana, J.S., Moraes, A.M.V., Mascarenhas, J.F.(In Memoriam) 2021. Nota Explicativa do Mapa Tectônico-Geocronológico do Estado da Bahia: implicações metalogenéticas. (In.) Programa Geologia, Mineração e Transformação Mineral – Levantamentos Geológicos e Integração Geológica Regional – SGB/CPRM – CBPM, 55p

LEMOS, D. A. Jacobina Sua História e Sua Gente. Editora Rabisco. 2° Edição. Jacobina, 2013

MOREIRA, I.C., OLIVEIRA, E. P., SOUSA, D. F. M. 2022. Evolution of the 3.65–2.58 Ga Mairi Gneiss Complex, Brazil: Implications for growth of the continental crust in the São Francisco Craton. Geoscience Frontiers.