“Trabalhar para ser o meu próprio chefe”. Não é incomum ouvir esta frase enquanto sinônimo de garantia de liberdade e sucesso. Os motivos que levam as pessoas a almejar o próprio negócio são diversos: vontade de enriquecer, dificuldade de inserção no mercado de trabalho, necessidade de renda extra. De acordo com a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2021, realizada pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), o Brasil figura entre as cinco economias mais empreendedoras do mundo, com nível empreendedor de 30,4%, atrás do Chile (35,9%), Guatemala (39,8%), Sudão (41,5%) e República Dominicana (45,2%).
Empreender segue entre os três principais sonhos dos brasileiros, especialmente entre as chamadas gerações Y e Z – dos 25 aos 44 anos. Segundo a pesquisa, em 2020 e 2021, a maioria dos empreendimentos abertos por brasileiros se enquadram como serviços orientados ao consumidor final e atividades industriais diversas, desde confecção de panos de pratos à venda de componentes para computadores.
A maior parte destas empresas é considerada de micro ou pequeno porte e correspondem a 99% dos empreendimentos registrados em todo o Brasil. Jorge Khoury, superintendente do Sebrae Bahia, destaca que há múltiplas motivações convergindo no desejo do brasileiro de ter o seu próprio negócio, e elas não são excludentes.
“A própria pesquisa faz uma revisão dessa dicotomia entre empreendedorismo por necessidade e por oportunidade. Em 2021, a vontade de ‘fazer diferença no mundo’ foi a motivação mencionada pela maioria dos empreendedores nascentes, 80,3% dos respondentes da pesquisa. É praticamente a mesma proporção de quem respondeu ‘ganhar a vida devido à escassez de empregos’, 79,2%”, pontua.
E quando se trata de empreendimentos, há aqueles que foram calculadamente planejados e outros que caíram de paraquedas. A segunda opção é o caso do Frases por Desenhos (@frasespordesenhos), de Camila Andrade, 21, natural de Feira de Santana. Apaixonada desde a infância por pinturas e desenhos, a jovem jamais imaginou que conquistaria a sua independência a partir do seu dom.
Mas foi comercializando suas letterings (letras desenhadas) em folhas de ofício por R$ 10, em 2019, que Camila cresceu o seu negócio e, hoje, vive exclusivamente dele. O perfil profissional da artista já conta com mais de 11 mil seguidores e, das frases desenhadas em folhas sem moldura, Andrade passou a ofertar placas de madeira, bags e xícara com seus desenhos, além das decorações em paredes.
“Sempre foi um percurso com dificuldade, mas muitas coisas boas. Hoje, o meu foco são as artes em paredes, e já são mais de 50 paredes por aí. É lindo demais ver o quanto evoluímos e crescemos, até CNPJ temos. Já tem uns 3 anos que eu me mantenho sendo artista e morando fora da casa de meu pais há 2 anos”, conta.
Já Amanda Lima, 32, desde sempre viu o ato de empreender como uma fonte de renda. A soteropolitana, quando precisava de uma renda extra, recorria às suas habilidades com produtos artesanais e comercializava bijuterias, desenhos e outros produtos. No final de 2018, a designer e empreendedora deu mais um passo e criou a Quero Craft (@euquerocraft), uma gráfica/papelaria, em que as estrelas são as agendas e planners personalizados.
“A Quero Craft foi uma necessidade minha de liberdade criativa, de ressignificar o meu trabalho como designer e me aproximar de algo que eu já gostava, que é o trabalho manual”, explica. A página oficial da papelaria no Instagram acumula mais de 13 mil seguidores e o trabalho de Amanda é enviado para todo o Brasil.
Renda extra
Todo mundo conhece alguém que iniciou um negócio durante a pandemia. Seja devido a uma demissão, à necessidade de renda extra ou até mesmo ao maior tempo em casa, o fato é que muita gente decidiu desengavetar uma ideia antiga de empreendimento ou começar algo do zero.
Foi o caso de Manuella Albertine, 30, que, em meio a pandemia, decidiu investir os R$ 400 do auxílio emergencial para criar a Seu Retrato, sua empresa de fotos polaroids. “Nunca levei em consideração ter um negócio nesse ramo, mas a necessidade de uma renda se fez necessário. Sempre gostei de trabalhar com fotografia e arte, foi um presente poder me conectar e me manter na área de fotografia de uma forma totalmente inusitada”, conta.
A empresa, que teve início na cidade de Feira de Santana e, hoje, tem a sua produção concentrada em Salvador, acumula mais de 14 mil seguidores no Instagram (@seuretrato_) e realiza entregas para todo o Brasil.
Trabalhar para si mesmo pode ser sinônimo de liberdade e facilitações, mas, como todo ofício, há dificuldades no percurso. Para Amanda, a famosa “trabalhe com o que ama e nunca mais precisará trabalhar na vida” não é uma verdade absoluta. A empreendedora, que precisou abrir mão do trabalho CLT para dedicar-se à papelaria, conta as dificuldades de manter um pequeno negócio, como a instabilidade de vendas e a pandemia, que elevou a concorrência e reduziu o poder de compra dos consumidores.
“Eu considerava ser uma pessoa que gostava muito de estabilidade e segurança, me vi em uma montanha russa. É difícil não poder delegar, ter funcionários. Também é difícil o público, às vezes, dar valor ao trabalho do pequeno empreendedor, ainda mais para mim, que faço tudo do zero”, explica.
Quanto às vantagens, as empreendedoras concordam: não há prazer maior do que trabalhar com o que se ama. Camila descreve o seu negócio de lettering como “um filho” e a “realização de um sonho de adolescente”. Além disso, Manuella chama atenção para a versatilidade. “Eu posso ‘trabalhar’ em qualquer lugar se eu tiver um celular. O fato de eu montar meus horários, faz com que eu consiga alinhar até melhor a minha produtividade”, explica a proprietária da Seu Retrato.
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