A rotina cansativa como catador de materiais recicláveis nunca fez Lucas Nunes da Silva (foto em destaque), de 26 anos, desistir do sonho de ingressar em uma universidade. Com o apoio dos pais, também catadores, o jovem foi aprovado em duas graduações em universidades públicas e em quatro residências.
Lucas sempre estudou em escolas públicas e, com 18 anos, começou a trabalhar com os pais na reciclagem. A ideia era ajudar a família financeiramente. Ele saía de casa, no Recanto das Emas, às 5h e só voltava 23h. Mesmo assim, o jovem conseguiu dedicar-se aos estudos.
“Sempre soube que era a única forma de ascender socialmente. Meus pais me mostraram que essa era a melhor alternativa para mudar de vida. Então, quando saí da escola tive que trabalhar, mas continuei estudando. Estudava no ônibus e nas madrugadas, também consegui muitas doações de livros. As pessoas se impressionam, mas eu me acostumei com essa rotina”, lembra Lucas.
Anos depois, a recompensa veio. Com 21 anos, o jovem foi aprovado na Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS) para estudar enfermagem. Ele formou-se no ano passado e passou em quatro residências: em 1º lugar na Universidade Federal de Goiás (UFG), em 1º lugar no Exame Nacional de Residência (ENARE) em BH, em 5º lugar na Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) e na Secretaria de Saúde de Goiás (SES-GO).
Hoje, o jovem faz residência no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e está finalizando a segunda graduação, em educação física, na Universidade de Brasília (UnB).
“Durante a infância eu sonhei em ser jogador de futebol, mas não deu certo. Então eu realizei esse sonho cursando educação física. No futuro, pretendo abrir uma clínica e juntar as minhas duas profissões de enfermeiro e educador físico”, diz Lucas.
Orgulho da família
Antes de ser catador, o pai de Lucas trabalhou como pedreiro, e a mãe como empregada doméstica. Após perderem os empregos, os dois recorreram aos materiais recicláveis e os filhos seguiram o mesmo caminho.
Lucas tem outros dois irmãos e todos passaram pela reciclagem. Ele não é o único que venceu as barreiras e conseguiu estudar. O irmão mais velho, de 28 anos, é formado em arquitetura na UnB.
“Éramos quatro irmãos. Um morreu com leptospirose no ano que eu entrei na faculdade. Foi uma fase muito difícil para todos nós, mas conseguimos superar aos poucos. Meu irmão mais velho também conseguiu se formar e o mais novo terminou o ensino médio agora”, comenta o enfermeiro.
Lucas conta que ele e a família chegaram a viver com apenas uma refeição por dia, mas conseguiram superar as maiores dificuldades. “Eu nunca me vitimizei. Nunca me senti inferior ou menos capaz do que ninguém. Sei que todo mundo tem problemas e enfrenta dificuldades; uns mais que outros, mas todos podemos superar”, afirmou.
Metrópoles
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