O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou à sede da Polícia Federal (PF) por volta das 13h35 desta quarta-feira (12/7) para prestar depoimento em investigação que apura trama envolvendo o senador Marcos do Val (Podemos-ES) para grampear o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o ex-deputado federal Daniel Silveira.
É a quarta oitiva que Bolsonaro comparece apenas em 2023. O Metrópoles apurou que a estratégia de defesa do ex-presidente será frisar que ele nunca teve proximidade com Marcos do Val e que, durante o mandato, só o encontrou em dezembro de 2022, em reunião organizada pelo ex-deputado Daniel Silveira.
Bolsonaro alegará que o encontro não tratou de nenhum assunto “não republicano”, tampouco algum plano “Tabajara” contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Logo após tomar ciência desse “plano”, por meio de mensagem do próprio senador Marcos Do Val, respondeu que era “coisa de maluco”.
O processo no qual Bolsonaro foi intimado a prestar esclarecimentos à PF apura suposto plano para gravar clandestinamente Moraes, em tentativa de reverter a derrota do ex-presidente nas últimas eleições. Na condição de testemunha, Bolsonaro terá que responder a perguntas sobre as declarações de Marcos do Val.
As contradições de Marcos do Val
Inicialmente, Marcos do Val havia dito, nas redes sociais, que houve uma “tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto a ele”. Depois, o senador mudou a versão e declarou que o ex-presidente teria ficado calado durante toda reunião que tiveram. Nesta versão, o parlamentar responsabilizou o ex-deputado Daniel Silveira pelo plano, e ainda garantiu que denunciou tudo ao ministro Alexandre de Moraes.
Na manhã desta quarta-feira (12), o senador negou envolvimento com qualquer plano golpista, e afirmou ter “apreço pela democracia”. O pronunciamento ocorreu após a coluna de Rodrigo Rangel, do Metrópoles, revelar trocas de mensagens em que Do Val detalha o passo a passo de uma suposta trama golpista, alinhada com Bolsonaro e Silveira (entenda mais abaixo).
Em junho, Moraes autorizou uma operação de busca e apreensão contra o senador. As buscas ocorreram no apartamento funcional do congressista em Brasília, no gabinete dele no Senado e em um endereço no Espírito Santo.
As medidas foram solicitadas depois de os investigadores identificarem tentativas do senador de atrapalhar as apurações sobre os atos golpistas do dia 8 de janeiro. No fim de junho, o senador solicitou afastamento das atividades parlamentares após precisar de atendimento médico durante uma sessão da CPI que investiga os ataques de 8 de janeiro.
Quarto depoimento
Esta é a quarta vez que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) depõe na sede da Polícia Federal, em Brasília, em 2023. Em 5 de abril, o mandatário foi à sede da corporação para explicar sobre as joias que ganhou de presente da Arábia Saudita.
Em 26 de abril, o ex-presidente depôs no âmbito do Inquérito (INQ) 4921, que investiga incitadores dos atos de 8 de janeiro. Ele virou alvo das investigações após compartilhar, em 10 de janeiro, publicação em que a regularidade das eleições era questionada. Apesar de ter apagado o post no mesmo dia, a PGR acusou o ex-presidente de incitar a perpetração de crimes contra o Estado de Direito ao propagar o vídeo.
Em maio, Bolsonaro deu sua versão à PF sobre as investigações que apuram fraude nos cartões de vacinação dele, da filha, de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, e de pessoas próximas.
Trama antidemocrática
As mensagens encontradas pela Polícia Federal no telefone celular do senador e divulgadas pelo Metrópoles revelam o parlamentar fazendo um perigoso jogo duplo na cúpula dos poderes da República em torno de uma suposta trama para deflagrar um golpe de estado destinado a anular as eleições presidenciais de 2022.
Ao mesmo tempo que falava com o próprio Bolsonaro e trocava mensagens com o ex-deputado Daniel Silveira para tratar do plano, que previa gravar o ministro Alexandre de Moraes e abrir caminho para o que seria uma intervenção militar no país, do Val mantinha o próprio ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral a par de cada passo que dava.
O plano que tinha o senador como personagem central envolvia a tentativa de flagrar eventuais inconfidências do ministro sobre o processo eleitoral. O próprio Marcos do Val encontraria o ministro e, equipado com aparelhos de escuta, o gravaria. O teor da gravação, de acordo com plano mirabolante gestado nas hostes bolsonaristas, seria a base para que militares alinhados ao bolsonarismo anulassem a eleição, decretassem uma intervenção no país e evitassem a posse de Lula.
Metrópoles
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