O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse à CNN que os diplomatas do seu governo estão trabalhando com os representantes do Itamaraty para viabilizar uma visita do presidente Volodymyr Zelensky ao Brasil.

Segundo Kuleba, ele e o chanceler brasileiro Mauro Vieira receberam instruções de Zelensky e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para organizar uma série de ações para ampliar as relações bilaterais.

As diretrizes foram estabelecidas durante o encontro entre os dois presidentes em Nova York, em setembro, às margens da Assembleia-Geral da ONU.

“Os chanceleres foram instruídos a trabalhar em novas iniciativas bilaterais e na organização de uma visita do presidente Zelensky ao Brasil. O presidente Lula também é bem-vindo para visitar a Ucrânia”, disse Kuleba.

Segundo ele, ainda não há uma data fechada para a viagem – que faria parte de um esforço do presidente Zelensky para se aproximar dos países do sul global, que não adotaram a mesma postura do mundo desenvolvido de apoiar totalmente o regime de Kiev no conflito.

O ministro ucraniano também afirmou que Kiev e Brasília estão se engajando em mais discussões sobre a guerra com a Rússia.

“O assessor especial para Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, foi instruído a continuar participando de formatos relacionados ao avanço da fórmula de paz da Ucrânia proposta pelo presidente Zelensky.

Uma nova cúpula da paz está agendada e vai acontecer em Malta. Será realizada em breve e o Brasil confirmou sua participação, o que é um sinal da implementação dos acordos firmados pelos dois presidentes”, disse Kuleba.

A CNN questionou o Ministério das Relações Exteriores brasileiro sobre a visita de Zelensky e aguarda resposta.

“Cúpula da paz” sem a Rússia

A chamada “cúpula da paz” não vai contar, mais uma vez, com a participação de representantes da Rússia.

A ausência de representantes russos é apontada por alguns países como um dos problemas das cúpulas organizadas pela Ucrânia, já que a paz só pode ser negociada efetivamente com a participação de todos os lados do conflito.

Perguntado pela CNN sobre isso, Kuleba fez uma analogia sobre uma possível invasão do território brasileiro.

“Imagine se um vizinho do Brasil atacasse o seu lindo e grande país e ocupasse 10% ou 20% do seu território? A sua resposta imediata seria negociar com o agressor alegando que ele não lhe devolveria esse território? E a única coisa que pode ser negociada é como permanecer nesses territórios? Provavelmente não”, afirmou.

“Portanto, é muito fácil pedir a outros para negociar quando você não está no lugar deles. Mas uma vez aplicada a situação ao seu próprio país, chega-se a conclusões e recomendações diferentes”, disse.

O chanceler continuou: “então, é fácil julgar os outros. Mas o que temos aqui novamente é uma imagem em preto e branco. Um país atacou outro país, tomou suas terras, matou seu povo e disse: ‘vou ficar aqui e se você quiser negociar, a única coisa que podemos negociar são os termos de como vou ficar aqui’. E é por isso que não estamos negociando com a Rússia, porque eles não têm qualquer direito político, legal ou moral de permanecer onde estão atualmente, na Ucrânia”.

Mensagem a Lula

A CNN também perguntou ao ministro ucraniano que mensagem ele teria para enviar ao presidente Lula sobre a postura do Brasil em relação ao conflito com a Rússia.

“Minha mensagem ao Brasil e ao presidente Lula é muito simples: a Ucrânia está travando uma guerra justa contra um opressor estrangeiro e é uma guerra pela sobrevivência da Ucrânia. Um estado atacou uma nação, e esta nação prevalecerá. E esperamos que o Brasil esteja ao lado da Ucrânia, ao lado do país que luta pela sua liberdade, independência e respeito”, disse ele.

Guerra no Oriente Médio

Kuleba também reconheceu que a guerra entre Israel e o Hamas está tirando a atenção da mídia do conflito na Ucrânia, que fará dois anos em fevereiro.

“Acredito que definitivamente perdemos a atenção da mídia. Essa é a própria natureza da mídia, porque novos conflitos sempre ofuscam os conflitos anteriores”, disse ele.

O chanceler ucraniano, no entanto, diz que o apoio político ao seu país continua firme entre as potências ocidentais.

“Não sentimos que perdemos a atenção política e, de fato, o último discurso do presidente (dos Estados Unidos) Joe Biden ao seu país, ao povo americano, colocou claramente a ameaça representada pela Rússia à Ucrânia e pelo Hamas a Israel em pé de igualdade. Então, não, não nos sentimos abandonados. Sentimos apoio contínuo”, afirmou ele.

Kuleba também minimizou o questionamento entre países aliados sobre o custo de manter a máquina de guerra da Ucrânia e também recentes declarações de oficiais da Otan de que a aliança militar ocidental estava ficando sem armamentos para enviar a Kiev.

Segundo ele, o governo ucraniano está trabalhando com forças políticas distintas em todos os países aliados, como os membros dos partidos Democrata e Republicano nos Estados Unidos, para garantir a manutenção do apoio à sua resistência.

E ele também afirmou categoricamente que “a Otan jamais ficará sem armamentos para ajudar a Ucrânia”.

A Tarde