Quem nunca viu ou ouviu Minita Montenegro pelos cantos da cidade do ouro? Essa que chegava e enobrecia o local com suas poesias e flores. Essa que subia e descia serras identificando problemas e buscando quem pudesse solucionar. Essa que ia ao rádio pedir uma bola para seus meninos e a mesma que voltava pedindo um pouco de tijolos para adultos.

Convocava para mutirões aqui, construía dali, inaugurava casa de lá. Protestava reivindicando, mas ela mesmo voltava ajudando. “Ajudem eles, eu já dei a minha parte”. Essa sim podia reclamar de quem não fazia, pois ela fazia sua parte, essa sim podia exigir respeito, pois ela sabia respeitar.

Da poesia dos pássaros que, graças a ela, descobri que passam impreterivelmente às 17h no centro da cidade, ao encanto das estrofes das selvas naturais. 

Essa que presenteava um garoto com um pião, enquanto ele lhe olhava assustado perguntando como se usa isso. “Estou resgatando essa brincadeira em Jacobina, quero ver as crianças nas praças brincando de pião”.

Mulher de Fibra, Minita Montenegro repartia seu dinheiro com uma criança que não tinha o do remédio, repartia seu salário com a floricultura para ver o cidadão recebendo rosas vermelhas e retornando-lhe um sorriso, dividia suas economias com o projetos musicais para não deixar que essa arte acabasse. Realmente só uma mulher forte como ela, podia ver a solução onde todos só enxergavam o problema, somente uma mulher de Fibra arregaça as mangas e vai em busca dos menos necessitados e pergunta como pode ajuda-los e tão somente ela tem a brilhante ideia de juntar amigos no alto da missão para cortejar a cidade que tanto ama, em uma comemoração de aniversário com direito a fogos e pétalas ao vento.

Recebe esta homenagem, poetiza. Hoje não é seu aniversário, não é o dia da mulher nem mesmo o dia do poeta, mas de forma bastante triste, é o dia em que todo jacobinense tem o coração partido com a notícia do seu falecimento. A poesia está de luto, a cultura está de luto, o rádio está de luto, o “menino Igor” como você chamava, está de luto, mas sustentado na certeza que agora os céus irão se alegrar com seu humor, amor e fervor.

Minita faleceu na noite desta sexta-feira, aos 76 anos, ao dar entrada na UPA de Jacobina reclamando de dores abdominais.

Natural de Tamburil de Morro do Chapéu, Maria da Anatividade Souza Montenegro nasceu em 8 de setembro de 47 e só chegou em Jacobina em 61 onde viveu até os dias atuais. Autora dos livros “O Pássaro e a flor”, “Nas Asas da Borboleta” e “Retalhos de Poesias” Minita Montenegro despeja suas composições por onde passa, deixando um pouco de carinho, otimismo e simpatia. 

Por Igor Fagner - Diário da Chapada

Trecho do livro "Retalhos de Poesias" de Minita Montenegro 

“Gostaria de ser o vento para subir bem alto e descer e ver nosso planeta cheio de selvas naturais e de selvas artificiais. Ao entrar na selva de pedras eu levantaria o pó e o mau cheiro causado pela poluição para que as narinas insensíveis do homem sentissem o cheiro da podridão. Cegos, idiotas, imbecis que enxergam, mas que não veem a destruição do nosso planeta. Ao entrar na selva linda e natural eu sopraria mansamente para acalentar os pássaros e derrubar as folhas novas. Ao anoitecer, eu sopraria mais mansamente ainda para que todos pudessem dormir em paz, mas ao raiar de uma nova aurora, eu tornaria a sentir uma cega folha no ar e subia bem alto e descia bravamente e agitava os mares, estremecia os montes e derrubava as chaminés que me tinge de preto, porque só dessa forma eu recobriria e receberia meu corpo limpo e cheirando a flor. Se eu fosse o vento, mas eu não sou.